domingo, 18 de dezembro de 2022

KLEBER LUCAS – ALVO MAIS QUE A NEVE: ENTRE A HISTÓRIA E A MILITÂNCIA

KLEBER LUCAS - ALVO MAIS QUE A NEVE:
ENTRE A HISTÓRIA E A MILITÂNCIA


Kleber Lucas, pastor evangélico e cantor gospel, participou de um podcast no qual ele afirmou que o hino clássico do meio evangélico, ‘Alvo mais que a neve’, tem teor racista. Eu, como Historiador, pus meu senso crítico para funcionar e resolvi questionar isto, me fazendo perguntas:
- Será que ele tem razão?
- Será que os compositores e arranjadores deste hino foram influenciados?
 
Até porque, Kleber Lucas poderia ter razão. Para isto, deveríamos fazer uma análise sobre o contexto social de quando este hino foi escrito. Pesquisando na internet, descobri que as fontes sobre o assunto são poucas, mas com o que tem, já podemos fazer algumas leituras. Segue:
 
Eden Reeder Latta:
Eden nasceu no dia 24 de março de 1839, na cidade de Hawpatch, estado de Indiana. Era o sétimo filho do casal James e Elizabeth Seegar Latta. Embora tenha sido um dos maiores escritores de canções cristãs da história – cerca de 1600 composições -, pouco se sabe dele. O que posso lhe contar é que ele, durante um bom tempo, foi professor das escolas públicas de Colesburg, em Iowa. Começou a compor suas canções desde cedo, mas foi com a canção “Come to Jesus”, composta em 1878, que ele começou a ser conhecido. Ele morreu aos 76 anos de idade, em 21 de dezembro de 1915, na cidade de Guttenberg, também em Iowa. Evidências dizem que ele passou por problemas emocionais nos últimos anos de sua vida.
 
Henry Southwick Perkins:
Henry nasceu no dia 20 de março de 1833, na cidade de Stockbridge. Seu pai era professor de canto, e sua mãe era cantora. Quando criança, seu pai começou a ensiná-lo e, mais adiante, começou a frequentar uma escola literária. Em 1857 ele ingressa na Escola de Música de Boston, se formando quatro anos mais depois. A partir daí, ele passa a organizar festivais e convenções em todo os Estados Unidos. Também atuou, por dois anos, como professor de música na Universidade de Iowa, foi titular da Academia de Música de Iowa por cinco anos, e ainda foi, durante cinco verões, professor titular na Escola de Música Normal de Kansas. Em todo esse tempo, ele foi compositor de músicas para corais, escolas públicas, associações, entre outros. Ele também ajudou na criação da Associação Nacional de Professores de Música, em 1886, das quais foi presidente por 1886. Em 1891, fundou o Colégio Nacional de Música de Chicago. Morreu aos 81 anos, em 20 de janeiro de 1914, em Chicago.
[Fonte: Portal Super Gospel]
https://www.supergospel.com.br/serie-sobre-a-historia-dos-grandes-hinos-da-musica-crista-parte-7-alvo-mais-que-a-neve_3073.html?fbclid=IwAR0n2wA2dRZVixdupqi0B2RhqaYz-IBd_upOb8hUi34Bd9-DOkSlcI21z7o

Iowa, um estado abolicionista
Um dos abolicionistas da escravidão mais conhecidos dos EUA, John Brown, era evangélico e teve uma grande atuação em Iowa, a terra de Eden Reeder Latta. Suas viagens por Iowa destacaram a importância do estado na “Underground Railroad” — as rotas secretas e casas seguras que ajudaram os escravos a escapar para a liberdade no século 19. O autor brasileiro Gutierres Fernandes Siqueira comentou sobre o momento histórico quando Eden Reeder Latta era pregador. “O hino ‘Alvo mais que a neve’ foi escrito pelo metodista Eden Reeder Latta (1839-1915). Ele foi pregador itinerante durante a Guerra Civil Americana em New Hampshire. Para quem conhece um pouco dos EUA, sabe que no século 19 essa região era o centro do abolicionismo”, disse Gutierres nesta quarta-feira (14) no Twitter. Gutierres destacou ainda que Latta “nada tem a ver com os batistas sulistas — berço do supremacismo branco odiendo. A tradição dele era outra e a região que ele morava e pregava lutou pela abolição.”
[Fonte: Portal Guiame]
 
Como analisamos nestes textos, não há nenhum vínculo que relacione compositor e arranjador com racismo. O compositor era metodista e vivia em uma região abolicionista. Vale ressaltar e ratificar que as fontes que temos sobre Eden e Henry são poucas e fragmentadas. Ou seja, nada podemos afirmar com 100% de razão.
 
Na verdade, Kleber Lucas é cristão, mas se familiariza com a ideologia de esquerda. (Isto gera muito espanto na “sociedade cristã”). Logo, o que eu acho que aconteceu é que ele juntou história com militância. E, por causa deste possível erro, o cantor tem sido alvo de críticas e julgamentos por parte dos nossos ‘irmãos em Cristo’.
 
Tem acontecido a mesma coisa com o cantor Leonardo Gonçalves, depois que ele se apresentou em uma igreja inclusiva. Dois pontos a salientar:
1. Não é porque ele cantou em uma igreja inclusiva que ele concorda com a prática homossexual;
2. Por que cantores gospel e pastores (renomados ou não) não poderiam se apresentar em uma igreja inclusiva? De onde vocês tiraram esta norma? O que impede um cantor gospel de cantar em uma igreja inclusiva? Homossexuais não podem “desfrutar” do mundo gospel?

Eu ainda acredito que Kleber Lucas, talvez, tivesse a intenção de levantar a pauta do racismo estrutural no país/mundo em que vivemos. Ele quis dizer que, historicamente, – e isto é fato – os cristãos perseguiram, torturaram, escravizaram e mataram negros (e índios). Se tem racismo presente até os dias atuais, isto vem de toda uma sociedade construída com base escravista e que a Igreja Cristã fez parte.
 
De uma coisa eu tenho certeza: Jesus, o Jesus Bíblico, andava com todos e não fazia acepção. Se Ele vivesse no ano de 2022, andaria e conversaria com Pabllo Vittar, com Anitta, Kleber Lucas. E é isso que nós, cristãos, deveríamos aprender a fazer. Mas preferimos nos isolar em nossa bolha e não olhar para os lados.

Irmão em Cristo, antes de julgar e criticar o próximo, olhe para o seu pecado. Deus não te ungiu com o dom de verificar se o pecado do próximo é melhor ou pior que o seu.
 
Deus os abençoe com toda sabedoria e discernimento!
 
Rio de Janeiro, 18 de dezembro de 2022
Raphael Paiva

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