A HIERARQUIA NA IGREJA APOSTÓLICA
A origem da administração eclesiástica deve ser creditada a Cristo, porque ele escolheu os 12 apóstolos que seriam os líderes da igreja em nascimento. Os apóstolos tomaram a iniciativa da criação de outros cargos na Igreja, quando dirigidos pelo Espírito Santo. Isso não implica numa hierarquia tipo pirâmide, como a desenvolvida na Igreja CatólicaApostólica Romana, porque os novos oficiais deviam ser escolhidos pelo povo, ordenados pelos apóstolos e precisavam ter qualificações espirituais próprias que envolviam a subordinação ao Espírito Santo. Assim, havia uma chamada interna do Espírito Santo para o ofício, uma chamada externa pelo voto democrático da Igreja e a ordenação ao ofício pelos apóstolos. Não deveria haver uma classe especial de sacerdotes à parte para ministrar um sistema sacerdotal de salvação, porque tanto os oficiais da igreja como os membros eram sacerdotes com direito de acesso direto a Deus através de Cristo (Ef 2.18).
A quantidade de material bíblico relativo à organização e liderança da igreja não é grande. Os títulos dos líderes da Igreja no Novo Testamento descreviam mais seus ministérios do que seu cargo e posição. Já que os primeiros membros e líderes da Igreja Primitiva eram judeus, familiarizados com a sinagoga, eles estabeleceram a organização da Igreja de uma forma mais ou menos semelhantes à da sinagoga.
Não é fácil classificar os vários ministros e oficiais mencionados no Novo testamento; vários termos como: pastor, presbítero e bispo, que consideramos títulos, são provavelmente maneiras diferentes de descrever a mesma função. Alguns termos, como ministro e diácono, são traduções diferentes da mesma palavra grega diakonos. Certos cargos, como os de apóstolo e profeta, foram exercidos estritamente por indicação divina através da prática de um dom espiritual, enquanto outros foram desempenhados mediante eleição ou nomeação humana baseada em qualificações específicas. Pastores e mestres podem ser dois tipos de ministros, ou talvez os termos representem simplesmente duas funções de um único cargo. Apesar das dificuldades envolvidas, deve ser feito um esforço para analisar cada cargo do Novo Testamento.
APÓSTOLOS
Os primeiros expositores do evangelho cristão foram os apóstolos que representam também o primeiro dom de ministério concedido por Deus à igreja.
A palavra apóstolo é uma transliteração do grego apóstolos, que significa mensageiro ou alguém enviado numa missão.
Paulo baseou seu apostolado numa chamada direta do Cristo vivo. Esses homens que foram os primeiros oficiais da Igreja Primitiva, combinaram em seu ministério todas as funções posteriormente exercidas por vários oficiais quando os apóstolos se tornaram incapazes de cuidar das necessidades da Igreja Primitiva em rápida expansão (At 6).
Pedro é a figura principal entre os 12 primeiros capítulos da narrativa da história da Igreja Primitiva, no livro de Atos. Pedro não só foi o primeiro pregador do evangelho aos judeus em Jerusalém no dia de Pentecoste como também foi o primeiro a apresentar o evangelho aos gentios com sua pregação na casa da centurião Cornélio. Apesar dessa liderança, não se observa nos relatos de suas atividades no Novo Testamento nenhum traço de conceito hierárquico e autoritário. Tiago, irmão de Cristo era líder da Igreja de Jerusalém, juntamante com Pedro. A proeminência de Tiago é clara por sua posição de liderança no Concílio de Jerusalém (At 15). João é mencionado junto com Pedro na liderança da Igreja Primitiva. A tradição relaciona suas atividades na cidade de Éfeso.
Os apóstolos originais foram aqueles escolhidos por Jesus para o acompanharem. Eram doze ao todo. Quando Judas Iscariotes traiu o Senhor, deixando apenas onze, outro apóstolo foi escolhido para tomar o seu lugar (At 1.15-26). Os nomes dos doze apóstolos foram escritos nos doze fundamentos da Nova Jerusalém (Ap 21.14).
OS REQUISITOS PARA SER APÓSTOLO
1 – Ter estado com o Senhor (At 1.21,22);
2 – Ter sido testemunha da ressurreição (At 1.22);
3 – Ter visto o Senhor (I Co 9.1);
4 – Ter operado sinais, prodígios e milagres (2Co 12.12).
Os doze apóstolos de Jesus e, Paulo que teve uma visão do Senhor e foi chamado pessoalmente por Jesus para ser apóstolo dos gentios (Rm 11.13; 1Co 9.1) formam sem dúvida o ministério apostólico.
Surgem sempre debates sobre a possibilidade de haver apóstolos modernos. Se o termo apóstolo for usado no sentido mais amplo de alguém comissionado pelo Senhor para abrir novos campos missionários, cujo ministério seja acompanhado por sinais e prodígios, não seria inadequado o uso da palavra apóstolo para ele. Não obstante, deve ficar bem claro que "apóstolo" é um dom de Deus, comissionado por ele. Sem dúvidas obras de homens como João Wesley, com toda razão pode ser considerada apostólica, mesmo ele nunca tendo reivindicado para si o título de apóstolo.
Após a morte do apóstolo João, a igreja jamais teve autorização para criar ou ordenar apóstolos. Nenhuma sucessão apostólica foi sequer estabelecida pela igreja primitiva. Nenhum dos pais da Igreja jamais usou tal título.
PROFETAS
Eram homens dotados pelo Espírito Santo, que prediziam eventos futuros. Mas frequentemente, o termo é usado para comunicar a revelação de Deus para a edificação, exortação e consolação da igreja. O profeta do Novo Testamento tanto pode ser um pastor que proclame a Palavra de Deus já revelada, visto que a revelação de Deus está completa e ninguém pode alterá-la, como também qualquer servo de Deus que seja agraciado com esse dom.
É dito na Bíblia que a igreja está construída sobre o fundamento de apóstolos e profetas (Ef 2.20). Paulo parecia dar ao dom da profecia a suprema prioridade entre os dons espirituais (I Co 14.1-3). A profecia é definida por Paulo como segue: “Mas o que profetiza fala aos homens, para edificação, exortação e consolação. O que fala em língua desconhecida edifica-se a si mesmo, mas o que profetiza edifica a igreja” (I Co 14.3-4). Esta definição é demonstrada em Atos 15: “Judas e Silas que eram também profetas, consolaram os irmãos com muitos conselhos e os fortaleceram” (At 15.32). No Novo Testamento uma função menos frequente do profeta era a de predição do futuro. Em apenas duas ocasiões, um profeta de nome Ágabo previu eventos futuros (At 11.27-29). Sua provisão de uma fome futura na Judéia capacitou as igrejas a preparar-se para ajudar os irmãos pobres daquela igreja. Mais tarde Ágabo previu a prisão de Paulo pelos judeus em Jerusalém, o que se cumpriu.
O dom de profecia permanece hoje na igreja, onde quer que os dons espirituais sejam reconhecidos. Em grande parte da pregação do evangelho a profecia se manifesta.
EVANGELISTAS
As Escrituras dizem que todos os crentes foram chamados para proclamar as boas novas da salvação. A frase “outros para evangelistas” refere-se a um ministério específico, especial. Por isso o evangelista é mais difícil de identificar no Novo Testamento porque quase todo mundo fazia o trabalho de evangelização. Felipe é realmente o único chamado de evangelista (At 21.8). A julgar pelo ministério de Felipe em Samaria, o evangelista é alguém cujo ministério é dirigido principalmente à salvação dos perdidos: “Felipe, descendo à cidade de Samaria, anunciava-lhes a Cristo” (At 8.5). Timóteo foi aconselhado por Paulo a fazer o trabalho de evangelista (2 Tm 4.5).
Evangelista em grego é derivado do verbo traduzido como “pregar o evangelho”. O evangelista então é alguém cujo principal objetivo é ganhar almas para o reino de Deus. Os ministérios de apóstolos, profeta e evangelista eram descritos como ministérios da igreja em geral.
PASTORES
É o que apascenta o rebanho do Senhor, como Tiago, irmão de Jesus na igreja de Jerusalém. Apesar de ser pastor da igreja e irmão de Jesus, Tiago nunca se autodenominou bispo na concepção de estar um degrau acima dos pastores. Trabalhou em pé de igualdade com os presbíteros e apóstolos da igreja.
Embora o termo “pastor”, como líder espiritual da igreja local seja encontrado apenas uma vez no Novo Testamento (Ef 4.11), ele será tratado em detalhes aqui por duas razões:
1 - É o termo mais comumente empregado na igreja local para o líder;
2 - A metáfora pastoral é utilizada em várias passagens da Bílbia (Mc 6.34; Jo 10.1-26; Hb 13.20).
A terminologia favorita de Jesus para expressar sua relação com o povo era a de pastor e ovelha. É, portanto, natural que os encarregados de cuidar do rebanho do Senhor sejam chamados pastores.
Não é fácil para os habitantes do mundo ocidental compreender a relação íntima que existia entre o pastor palestino e suas ovelhas. Nenhuma palavra poderia expressar melhor o cuidado amoroso e a confiança mútua que deveria existir entre o líder espiritual e sua congregação do que a palavra “pastor”. Outros sinônimos para o cargo pastoral são usados no Novo testamento, mas o título que permanece é o de pastor.
MESTRES
Mestres são a quinta categoria de dons de ministério concedidos à igreja pelo Senhor (Ef 4.11). Não fica absolutamente claro se o termo “mestre” representaria um cargo distinto ou simplesmente uma função dos apóstolos e pastores (presbíteros). O fato de existirem profetas e mestres na igreja de Antioquia (At 13.1) indica que mestre era um ministério distinto.
Mestres são citados juntamente com apóstolos e profetas como cargos estabelecidos por Deus na igreja (I Co 12.2). Mas em Efésios 4.11, mestre não é precedido de um artigo definido como outros cargos; portanto, o termo talvez indique simplesmente o ensino como uma função dos pastores (pastores mestres). Ensinar é mencionado como um dom espiritual em Romanos 12.6,7; assim sendo qualquer crente que tenha esse dom pode ensinar. Paulo refere-se a ele próprio como “designado pregador, apóstolo e mestre” (2 Tm 1.11). A Grande Comissão sugere fortemente que o ensino é da maior importância para o avanço da igreja: “Ide por todo mundo e fazei discípulos de todas as nações, batizando-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado...” (Mt 28.19,20).
Embora o ensino seja parte de quase todos os ministérios do Novo Testamento, haviam alguns cujo chamado principal era ensinar a Palavra de Deus. Existem sem dúvidas aqueles cujo ministério pode ser melhor identificado com o de mestre.
ANCIÃOS OU PRESBÍTEROS
Ancião era um título tomado de empréstimo da sinagoga e da congregação de Israel. A palavra hebraica para “ancião” era zaquem, que significava um homem mais velho.Presbuteros em grego tem o mesmo significado, sendo a origem da nossa palavrapresbítero. Depois de fundar novas igrejas na Ásia, Paulo nomeou anciãos para cuidar delas (At 14.23). O ancião equivalia ao pastor, sendo o título mais comum para o encarregado de uma igreja local (At 20.17, 28; Tt 1.5; I PE 5.1-4). Os anciãos eram sustentados materialmente por suas congregações, as quais o apóstolo Paulo exortou no sentido de concederem honra dobrada aos presbíteros que governassem bem suas igrejas. Dignos de honra especial eram aqueles presbíteros que trabalhavam na pregação da Palavra e no ensino (I Tm 5.17-19).
BISPOS
A palavra grega episkopos (de onde derivou nossa palavra “episcopal”) é traduzida como bispo. Uma tradução melhor teria sido supervisor ou superintendente, que é o sentido literal. Eles exerciam a superintendência geral sobre a igreja local, especialmente em relação ao cuidado pastoral e à disciplina. Seus deveres eram geralmente de natureza espiritual. Às vezes são denominados pastores (At 20.28).
No século I, cada comunidade cristã era governada por um grupo de anciãos ou bispos, de modo que não havia apenas um obreiro para fazer tudo que um pastor faz nos dias atuais. Apenas no século II o bispo passou a dirigir várias igrejas.
DIÁCONOS
A Bíblia torna muito claro que os dois cargos da igreja local eram o de presbítero e o de diácono. Os diáconos são mencionados diretamente em apenas duas passagens (Fp 1.1; I Tm 3.8-13); todavia qualificações bastante detalhadas para diáconos são apresentadas no capítulo 3 de I Timóteo, onde são também dadas as qualificações para bispos. No Novo Testamento os deveres dos diáconos está ligado à administração das obras de caridade e aos negócios da igreja. A palavra “diácono” vem do grego diakonos, que significa “servo”. Os diáconos serviam então a igreja de maneira a liberar os presbíteros para a oração e o ministério da Palavra.
TERMOS SINÔNIMOS
PRESBÍTEROS
Na Bíblia não há diferença entre pastor, bispo e presbítero. Presbítero é um pastor mais idoso, mais experiente.
O primeiro registro sobre presbíteros está em Atos 11.30, citados como anciãos. Pertenciam a igreja de Jerusalém e foram os que receberam a oferta enviada pela igreja de Antioquia da Síria. Em outros textos das Escrituras eles se encontram como dirigentes da novas igrejas de Derbe, Icônio, Listra, Antioquia da Psídia e mais tarde em Perge na Panfília, ordenados por Paulo e Barnabé para o exercício do cargo pastoral. Em Atos 15 temos quatro vezes referencias a presbíteros. Nesse texto de Atos 15 não aparece nenhuma vez a palavra “pastor” nem “bispo”. Sabemos que Tiago, irmão do Senhor, era pastor da igreja em Jerusalém e não era apóstolo, logo sendo pastor era também presbítero.
Pedro se intitula presbítero e ordena que os presbíteros pastoreiem o rebanho de Deus com amor e brandura. Pastorear é trabalho de pastor, logo, presbítero é pastor. Na história da Igreja, João Calvino foi o primeiro a inovar colocando o cargo de presbítero entre o de pastor e diácono. Essa designação, no entanto, não tem respaldo bíblico.
COMO SURGIU A HIERARQUIA ECLESIÁSTICA DOS BISPOS
Chamados de “colunas” da Igreja de Jerusalém, Pedro, Tiago e João eram servos de Deus e não mandatários da Igreja. Prova disso podemos ver no crucial problema judaizante contra Paulo e Barnabé. Eles convocaram uma grande assembleia, chamada por alguns de Primeiro Concílio da Igreja Cristã. A conclusão do sério problema não veio por imposição dos “bispos chefe”, nem mesmo por um dos doze apóstolos, foi decidida por uma assembleia cristã, soberana, provando que o governo eclesiástico no Novo Testamento é democrático. A última palavra não vem de um Papa, nem de bispo, nem de apóstolo, mas de uma igreja reunida em assembleia.
Como surgiu então o conceito de bispo com autoridde divina sobre os pastores? Ele evoluiu entre os homens, jamais da verdade eterna de Deus. Encontramos alguns resquícios desse conceito nos escritos da Igreja Primitiva. Irineu, no segundo século cristão, refere-se aos bispos como sucessores dos apóstolos tanto no ensino como na administração das igrejas. Hipólito afirma que somente os bispos tinham autoridade para ordenar pastores. Vemos aqui um passo em direção ao desvio da Bíblia e mais próximo do papado romano.
Nas igrejas da Síria e da África Menor cada corpo local era supervisionado por bispos itinerantes sob a responsabilidade de um bispo fixado em algum lugar.
No Norte da África um bispo era nomeado sempre que surgisse uma nova comunidade. Esse bispo ficava em Alexandria. A mesma coisa sucedia na Europa, onde somente os bispos tinham o poder de ordenar ministros locais. Naturalmente haviam lugares onde o cargo de bispo era o correspondente ao do Novo Testamento, ou seja, o bispo era apenas o ancião ou pastor de uma igreja local.
Ao redor das cidades maiores surgiu a tendência de um pastor de uma cidade maior exercer influencia sobre os pastores de cidades menores. O titulo continuava o mesmo do Novo Testamento, mas as funções dos bispos ultrapassavam tudo quanto se vê nas páginas sagradas. Esse tipo de atividade continuou até que começaram a surgir os “arcebispos”. Em meio a esse desenvolvimento da função, foi surgindo aos poucos a figura do papa de Roma, que tinha maior prestígio e autoridade que todos os bispos e arcebispos. Isso criou toda uma hierarquia eclesiástica, ao passo que o Novo Testamento nos apresenta a idéia de um ministério diversificado, mas sem superioridades e inferioridades.
CONCLUSÃO
Os bispos hoje:
Na Igreja Católica Romana o bispo exerce autoridade sobre algumas áreas e, padres são colocados sob as suas ordens.
Na Igreja Episcopal a denominação é governada por bispos. Governam dioceses e consagram igrejas. Contam com três ordens de ministros: bispos, padres e diáconos.
Na Igreja Metodista o bispo exerce autoridade numa certa região com poderes para fazer remanejamento de pastores periodicamente.
J. DIAS
FONTES:
Fundamentos da Teologia Pentecostal – Ed Quadrangular
Conhecendo as Doutrinas da Bíblia – Ed Vida
Módulo de Teologia – Doutrina da Igreja – Ed FTB
O Cristianismo Através dos Séculos - Ed Vida Nova