quinta-feira, 12 de maio de 2016

Nunca Mais - Professor Wilson Gomes - UFBA [Impeachment Dilma]


NUNCA MAIS...

Não, amigos, a democracia não acaba a partir de amanhã. Nunca convém perder o senso de proporção. Entretanto, algumas coisas nunca mais serão iguais na democracia brasileira. E estas coisas não são banais. Segue a minha lista de "nunca mais", para tentar explicar em que sentido estamos passando, hoje, de um "ponto de não retorno".

1. Nunca mais uma eleição direta, limpa e livre decidirá quem fica com a presidência do país. Doravante caberá ao Congresso e ao cassino político convalidar, ou não, o voto popular. Nunca mais a soberania popular regerá nossas ações (com a devida vênia do hino ao 2 de julho), sem a supervisão e revisão do Senado.

2. Nunca mais quantidade de cadeiras ocupadas pelo governo e pela oposição será irrelevante para a continuidade, ou não, de mandatos presidenciais. Sempre que a oposição tiver número superior a 2/3, qualquer pretexto será usando para o "impeachment à brasileira", que consiste simplesmente na regra de ouro que doravante nos regerá: "Governa quem tiver mais votos no Congresso, não quem for escolhido pelo voto popular".

3. Nunca mais um partido se arriscará convidar para a vice-presidência outro partido grande o suficiente para conspirar contra o titular e tomar-lhe o posto na primeira oportunidade. Os candidatos a vice-presidente doravante terão que ser velhinhos cardiopatas, monges budistas ou membros de partidos minúsculos e repulsivos.

4. Nunca mais teremos uma presidencialismo normal. A alquimia política brasileira acabou de inventar uma jabuticaba presidencialista em que o voto direto que realmente conta é o voto em senadores, que passam a ter o poder de, segundo as suas conveniências, transformar-se em colégio eleitoral para, indiretamente, decidir quem deve governar. Independentemente da manifestação, nas urnas, da vontade do povo.

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