Malafaia: “Evangélicos vão se manifestar contra a censura e contra o controle da mídia pelo estado ou por militantes”. Ou: “Por cima dos evangélicos, eles não passarão!”
Lideranças evangélicas organizam uma manifestação pública, em Brasília, para o dia 5 de junho. Trata-se de um protesto contra o casamento gay? Não! O objeto do encontro é outro: a defesa da liberdade de expressão, que consideram, e com razão, sob ameaça no país. Um dos organizadores é o pastor Silas Malafaia, com quem falei há pouco. Ele define assim o evento:
“Nós somos contra a equiparação da união homossexual à heterossexual? Sim! Nós somos a favor do que passaram a chamar de ‘família tradicional’, formado por homem, mulher e filhos? Sim! Certamente, por razões óbvias, essas questões surgirão em nossa manifestação. E temos essas opiniões porque são matéria de convicção, de crença, e porque a Constituição nos assegura o direito de tê-las. Mas o objeto principal do nosso encontro é outro. Vamos nos manifestar a favor da liberdade de expressão e contra o controle da mídia, que vem sendo reivindicado por pessoas que odeiam a liberdade. Não aceitamos o controle da mídia nem pelo estado nem por grupos militantes. Querem nos transformar, aos evangélicos, em antediluvianos, em reacionários. Errado! Nós somos a modernidade democrática. Nós é que somos por uma sociedade radicalmente democrática, sem um estado censor e sem a censura de grupos organizados”.
A fala está corretíssima, e desafio qualquer defensor da democracia a encontrar nela algo que agrida a democracia, o estado de direito e o artigo 5º da Constituição, entre outros que garantem os direitos fundamentais dos brasileiros.
ABORTO
Malafaia também diz que os evangélicos vão se manifestar em defesa da vida e contra, pois, a tentativa sorrateira de legalizar o aborto, presente na proposta de reforma do Código Penal que está no Senado. Uma comissão de supostos notáveis tentou driblar o óbice constitucional, que assegura o direito à vida, para, de forma malandra, legalizar o aborto sem debater com ninguém, ao arrepio da sociedade.
O deputado Marco Feliciano (PSC-SP) estará presente ao encontro de Brasília? É muito provável que sim. Trata-se de um desagravo às tentativas de derrubá-lo da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara? De novo: o objetivo da manifestação é mais amplo do que isso. Nesse sentido, independentemente do conteúdo da pauta dos evangélicos, Malafaia tem razão: defender o direito à liberdade de expressão é uma pauta mais “moderna” do que a dos que querem submetê-la aos tribunais informais de movimentos organizados.
As lideranças evangélicas são contra, por exemplo, o PLC 122, apelidado de “Lei Anti-Homofobia”. Basta atentar para seu conteúdo para constatar que, sob o pretexto de proteger os gays de agressões — e quem pode ser a favor, Santo Deus! —, vem a ameaça à liberdade de expressão, sim. Já demonstrei isso aqui muitas vezes.
E como é que essa questão se casa com a defesa mais geral da liberdade de expressão e contra o controle da mídia? Quem deu a pista foi o petista gaúcho e graúdo Tarso Genro. Ao defender a regulamentação da mídia, chegou a afirmar que 80% da programação de rádio e TV estariam fora dos parâmetros constitucionais.
“Evangélico, agora, tem o direito der ser contra gay, Reinaldo?” Não! Nem eles nem ninguém. Mas de ser contra a equiparação das uniões civis, ah, isso eles têm, sim! Não é a minha opinião, por exemplo. E daí? A democracia não existe para fazer as minhas vontades. Na França, um milhão saíram às ruas contra o casamento gay. Nem por isso a imprensa francesa, mesmo a socialista e favorável à pauta, os tachou de fascistas.
Malafaia deixa claro que não é o dono da manifestação. É apenas uma das lideranças evangélicas que a apoiam. Enquanto o seu ponto de vista triunfar, quem é favorável a suas opiniões pode se manifestar; quem é contrário a suas opiniões pode se manifestar. Se vencer a pauta daqueles que o agridem, então teremos uma singularíssima democracia em que só pode dizer o que pensa quem diz “sim”.
Ele encerra:
“Publiquei um pronunciamento nos jornais em setembro de 2010 me opondo ao controle da mídia. E lá deixei claro que sou favorável à imprensa livre mesmo quando ela me agride. Enquanto vigorar o que eu penso, jornalista jamais será punido por delito de opinião ou correrá o risco de perder o registro profissional por pensar isso ou aquilo. Mas tenho visto por aí muitos falsos democratas, maléficos como os falsos profetas, falando em nome da liberdade para poder censurar a opinião alheia. Por cima dos evangélicos, eles não passarão”.
“Publiquei um pronunciamento nos jornais em setembro de 2010 me opondo ao controle da mídia. E lá deixei claro que sou favorável à imprensa livre mesmo quando ela me agride. Enquanto vigorar o que eu penso, jornalista jamais será punido por delito de opinião ou correrá o risco de perder o registro profissional por pensar isso ou aquilo. Mas tenho visto por aí muitos falsos democratas, maléficos como os falsos profetas, falando em nome da liberdade para poder censurar a opinião alheia. Por cima dos evangélicos, eles não passarão”.
Tomara que não!
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