ESPECIAL GOLPE CIVIL-MILITAR DE 64
QUEM
MATOU RUBENS PAIVA?
O MILITAR Valdemar Oliveira participou de ações
de busca e espionagem na ditadura – de algumas, afirma não ter esquecido. Foi considerado
desertor pelo Exército e testemunhou na Comissão da Verdade. Agora, no
INtercept, conta detalhes inéditos sobre o que viu: ‘Fiquei calado por muito
tempo’.
De acordo com Valdemar, Paiva foi arremessado
ao mar com um peso amarrado ao corpo: “uma roda de caminhão”.
Dois de seus colegas de regimento – Jurandyr Ochsendorf
e Souza e Jacy Ochsendorf e Souza – participaram da ação de ocultação do corpo
em janeiro de 1971, sob ordens de Paulo Malhães, chefe da equipe. Jurandyr lhe
contou que o corpo de Paiva foi levado no mesmo dia da morte por um barco da
Marinha.
Meses depois, os irmãos Ochsendorf seriam agraciados
com a Medalha do Pacificador, honraria igualmente concedida pelo Exército ao
assassino do deputado, o tenente Antônio Fernando Hughes de Carvalho, ligado ao
Centro de Informações de Segurança da Aeronáutica, CISA. “Rubens Paiva já
chegou quebrado ao 1º BPE [sede do DOI-Codi/RJ], vindo do CISA. Fernando Hughes
terminou o serviço”, afirma.
Texto feito e compartilhado no perfil do
TikTok ARTEETERAPIA0.
O Intecept fez uma reportagem sobre o
assassinato de Rubens Paiva. Abaixo segue um reportagem:
‘FIQUEI CALADO POR MUITO TEMPO’
Militar revela detalhes de como o Exército
deu fim ao corpo de Rubens Paiva e outros crimes secretos da ditadura- O militar Valdemar Martins de Oliveira é um
Veterano Paraquedista que prestou serviços de busca, apreensão e espionagem
para o Exército durante a década de 1970. De acordo com ele, Rubens Paiva foi
arremessado ao mar com um peso amarrado ao corpo: “uma roda de caminhão”.
- Dois de seus colegas de regimento –
Jurandyr Ochsendorf e Souza e Jacy Ochsendorf e Souza – participaram da
ocultação do corpo em janeiro de 1971, sob ordens de Paulo Malhães, chefe da
equipe. Jurandyr lhe contou que o corpo de Paiva foi levado no mesmo dia da
morte por um barco da Marinha. Meses depois, os irmãos Ochsendorf seriam
agraciados com a Medalha do Pacificador, honraria igualmente concedida pelo
Exército ao assassino do deputado, o tenente Antônio Fernando Hughes de
Carvalho, agente do Centro de Informações do Exército, CIE, ligado ao Centro de
Informações de Segurança da Aeronáutica, CISA. “Rubens Paiva já chegou quebrado
ao 1º BPE [sede do DOI-Codi/RJ], vindo do CISA. Fernando Hughes terminou o
serviço”, afirma.
O militar e o ex-preso político: Valdemar
Martins depõe na Comissão da Verdade ao lado de Ivan Seixas, em 2013.
CINCO DENUNCIADOS, NENHUM CONDENADO
- Em 2014, Ministério Público Federal
denunciou por formação de quadrilha armada, fraude processual, homicídio doloso
e ocultação do cadáver de Rubens Paiva:
- Jurandyr Ochsendorf;
- Jacy Ochsendorf;
- Rubens Paim Sampaio, que integrou o Centro
de Informações do Exército no Rio;
- José Antônio Nogueira Belham,
ex-comandante do DOI-Codi/RJ; e
- Raymundo Ronaldo Campos.
- Até hoje, ninguém foi condenado.
- Outros acusados, como Hughes, Malhães e o
capitão Freddie Perdigão Pereira, que também teriam participado do crime, já
haviam morrido na época da denúncia.
REFUTANDO VERSÕES OFICIAIS DE CRIMES
Valdemar também contou detalhes de outro
crime ocorrido na ditadura. Na chamada Casa da Morte, antro secreto de tortura
e extermínio em Petrópolis, no RJ, ele conta que viu a morte do cabo e agente
duplo Victor Luiz Papandreu, o “Grego”. Militante do Vanguarda Armada
Revolucionária Palmares, VAR-Palmares, Papandreu havia sido preso, aceitara ser
informante dos órgãos de segurança e foi morto quando os agentes consideraram
que ele não tinha mais serventia.
Após ser diagnosticado com transtornos
psicológicos pelo médico Amílcar Lobo, Grego foi fuzilado à queima-roupa por
Rubens Paim Sampaio, também denunciado no assassinato de Rubens Paiva, em maio
de 1971. Após sua morte, o corpo de Grego foi levado para uma usina e
incinerado. De acordo com o médico, Paim havia assassinado mais de dez pessoas
na casa de Petrópolis.
“Grego era inteligente, não estava louco. Mas
ele era um incômodo, como eu”, conta Valdemar, que garante que Paim tinha uma
extensa lista de assassinatos.
Os membros da Casa da Morte: Paim (esquerda,
em pé), Perdigão (ao lado, agachado), Malhães (ao centro, de barba),
Camarão (atrás, calvo e de barba)
Um mês antes, o paraquedista havia
participado do cerco ao casal de militantes do MR-8 [o grupo Movimento
Revolucionário 8 de Outubro] Mário de Souza Prata e Marilena Villas-Boas, que
resultou em tiroteio e morte do major José Túlio Toja Martinez numa rua de
Campo Grande, subúrbio do Rio. O presidente Médici usou o episódio para adotar
a execução como política de estado.
A versão oficial descreve que Marilena
alvejou o major com um revólver ao ser abordada. Valdemar sustenta que o tiro
inicial foi disparado por um potente fuzil FAL, do Exército, ou seja, o oficial
pode ter sido morto por “fogo amigo”. “Seria necessário fazer um exame pericial
para saber que tipo de bala o atingiu”, sugere.
Ele afirma também que o motorista de táxi que
transportava o casal foi pressionado, posteriormente, a declarar que o primeiro
disparo foi dado por Marilena. Ela e Mário teriam sido feridos e levados para o
Hospital Central do Exército.
Anos depois, soube-se pela militante Inês
Etienne Romeu que Marilena foi levada para a Casa da Morte, local onde Valdemar
esteve por três vezes. “O que vocês chamam de Casa da Morte, era a casa de
Mario Lodders, filho de um alemão nazista”, ele explica. Inês também contou ter
reconhecido Hughes como um dos torturadores do local. Criado a mando do
ministro do Exército Orlando Geisel, o centro de tortura teria sido desativado
no fim de 1973.
INGRESSO NO EXÉRCITO E NOS PORÕES DA DITADURA
A trajetória de Valdemar no Exército começou
em 15 de janeiro de 1968, com 17 anos, quando ingressou como soldado concursado
no Núcleo de Divisão Aeroterrestre, onde hoje está o 27º Batalhão de Infantaria
Paraquedista, no Rio de Janeiro.
Primeiro paraquedista de sua turma, foi
cooptado já em agosto daquele ano pelo CIE, órgão do aparato de segurança
criado em 1967, subordinado ao Ministério do Exército e ao Serviço Nacional de
Informação, o SNI.
Segundo ele, os paraquedistas, uma tropa de
elite, eram fanatizados e treinados para a guerra. Após sua convocação, o
sargento Guilherme do Rosário o apresentou ao então capitão Rubens Paim
Sampaio. Valdemar conta que Sampaio comparou sua aparência à de jovens
militantes de esquerda. Ele ainda observa que não se deu conta que estava se
embrenhando no submundo da vida militar. “Não sabia o que era o CIE.
Simplesmente fazia o que meus superiores ordenavam”, relata.
Rubens Paim Sampaio, um dos mais ativos
agentes da repressão, conhecido como “Dr. Teixeira”.
O recruta teve treinamento especial no 1º
Batalhão de Polícia do Exército, sede do futuro Destacamento de Operações de
Informações do Centro de Operações de Defesa Interna, o DOI-Codi, no Rio de
Janeiro.
Entre os instrutores, diz Valdemar, estavam
dois oficiais estadunidenses egressos do Vietnã, que ministraram aulas sobre
explosivos, fotografia, métodos de espionagem, sabotagem, interrogatório e
tortura, além de temas sobre anticomunismo e ideologias de esquerda.
Dois de seus superiores estavam entre os mais
ativos agentes da repressão institucionalizada: o próprio Paim Sampaio, que
usava o codinome “Dr. Teixeira”, membro do CIE e oficial dos gabinetes dos
generais Orlando Geisel (irmão do presidente da República) e Sylvio Frota; e o
capitão Freddie Perdigão Pereira, o “Dr. Roberto”, integrante do CIE, DOI-Codi/SP,
SNI e Grupo Secreto – milícia responsável por atentados a bombas a sedes de
jornais, bancas de revistas, OAB/RJ e Riocentro.
Paim Sampaio e Perdigão eram chefes da Casa
da Morte, cuja zeladoria era feita por um colega do grupo de paraquedismo de
Valdemar: Antônio “Camarão” Waneir Lima, torturador e abusador de Inês Etienne
Romeu, a única sobrevivente do local. “No quartel, ele gostava de dizer que
tinha sodomizado Inês”, recorda Valdemar.
Elo entre a casa e o DOI-Codi de São Paulo,
Perdigão foi um dos envolvidos no atentado à estilista Zuzu Angel, morta num
acidente automobilístico em 1976. Ele e Paim Sampaio também estiveram entre os
14 apontados pelo Ministério Público Federal, em 2014, como autores do
sequestro, assassinato e ocultação do corpo do deputado Rubens Paiva.
Um terceiro chefe de Valdemar, o capitão
Paulo Malhães, era um dos idealizadores da Casa de Morte, igualmente implicado
no caso Rubens Paiva. Em entrevistas, Malhães admitiu que utilizava animais
para torturar presos (a famosa jiboia do DOI-Codi pertencia a ele) e que
retirava arcadas dentárias e dedos dos corpos de guerrilheiros antes de jogar
os cadáveres em rios.
No CIE, o soldado relata ter testemunhado até
mesmo a quebra de hierarquia militar: oficiais de maiores patentes obedeciam a
oficiais de menores patentes, coronéis obedeciam a capitães. Ele assegura que o
órgão estava diretamente conectado à Presidência e que suas determinações
prevaleciam sobre as de outros destacamentos: “o presidente sabia tudo o que
ocorria ali”, afirma.
MISSÕES DE ESPIONAGEM E REPRESSÃO
Após deixar o cabelo crescer e adotar trajes
civis, uma de suas primeiras missões foi fotografar jovens do movimento
estudantil, entre eles, João Antônio Abi-Eçab e Catarina Helena Abi-Eçab,
estudantes da USP e militantes da Ação Libertadora Nacional, a ALN, suspeitos
da execução do capitão estadunidense Charles Chandler em outubro de 1968.
Em seguida, Valdemar Martins participou da
ação de captura que resultou em tortura e morte do casal num sítio de um
coronel em São João de Meriti, no Rio de Janeiro, em novembro de 1968. “O
governo procurava os assassinos do capitão, queria os culpados, mas eu disse
que o casal nada sabia”, conta.
Após discordar da violência exercida pelos
agentes, Valdemar relata ter sido agredido por “Miro”, policial do DOPS, e
depois afirma que passou a ser perseguido e ameaçado por seus pares.
Dias depois, segundo Valdemar, Paim Sampaio
produziu um falso termo de deserção que acredita ter como objetivo lhe imputar
a execução do casal, que teria sido feita por Perdigão.
O termo de deserção.
“O termo foi escrito à mão numa folha de
caderno. Eles queriam que eu segurasse essa bucha”, relata. A versão oficial
sobre o caso Abi-Eçab citava que o casal morrera num acidente automobilístico,
cujo veículo carregava explosivos. Os militares receavam que o recruta
denunciasse os crimes – algo que ocorreria muito depois, mas sem surtir efeito
perante a Justiça Militar.
Hospedado no Hotel Marialva, no bairro da
Lapa, Rio de Janeiro, Valdemar partia para operações diversas na região. Em
1970, contudo, ele se reuniu com os militares na casa de sua irmã, em São
Paulo, para tratar de sua permanência no quartel do Rio de Janeiro, proposta
rechaçada pelos agentes de segurança. Valdemar afirma que, como se recusou a
dar continuidade às atividades de vigilância, acabou agredido, juntamente com
sua mãe e irmã – ele teve um corte profundo na cabeça e seu braço quebrado,
enquanto sua irmã sofreu um aborto.
Coagido, permaneceu ligado ao CIE. “Quem
entrasse, não sairia mais, então eu me fazia de besta”, afirma.
VIDA NA CLANDESTINIDADE E RETORNO À CASERNA
Valdemar Martins executou também tarefas mais
amenas e burocráticas. Mesmo sem experiência, atuou como “funcionário” e
olheiro nas empresas DIMIG e SPI, onde emitia certificados de títulos
mobiliários e fundos de investimento, e na fábrica de cigarros Sabratti.
Diariamente, conta ele, tinha que se
apresentar no prédio do DOI-Codi em São Paulo. Por discordar dos métodos de
repressão, Valdemar revela que, frequentemente, neste e em outros casos, seus
relatórios omitiam informações.
Em 1972, ele foi enviado para as regiões de
Marília e de Ribeirão Preto, ambas no interior de São Paulo, para se infiltrar
em grupos de teatros, bares de universitários e igrejas. Quatro anos depois,
Valdemar foi avisado que estava sendo procurado por Mariel Mariscot,
ex-paraquedista e notório integrante do temido Esquadrão da Morte, e teve sua
casa invadida. Ao perceber que a porta seria arrombada, conta que escapou pelos
fundos e pulou o muro. Mariscot seria preso em seguida.
Em meio a turbulências, partiu para o Chile,
onde trabalhou numa mineradora e prestou serviços para o CIE quando
requisitado. “Havia o receio de ameaças à minha família”, pontua.
No início da reabertura política, em 1979,
procurou seu antigo chefe em São Paulo e Marília, Waldir Silveira Mello, que
havia se tornado juiz auditor da Justiça Militar. Porém, foi aconselhado a
“sumir, pois sabia demais”. O conselho, além de outro ataque, no qual seu carro
foi alvejado por tiros, o compeliram a seguir na semi clandestinidade durante
as décadas seguintes, quando trabalhou em garimpos e fazendas, como boia-fria –
e procurou, sem sucesso, auxílio de oficiais para resolver sua situação
militar.
A sua sorte mudou em 1997. Após relatar sua
condição a diversos oficiais, foi chamado para se reapresentar ao seu antigo
batalhão. Munido de habeas corpus preventivo foi, 30 anos após seu ingresso nas
Forças Armadas, reincorporado em 12 de março de 1998, com 47 anos de idade.
A estadia no quartel foi curta. Ele foi
licenciado do serviço em 26 de julho de 1999 por ultrapassar a idade permitida
para a função de soldado, sem direitos assegurados aos agentes militares –
situação que persiste até hoje. Negou-se a assinar o certificado de reservista
por discordar de sua permanência no cargo de soldado.
Antes de sua saída, o capitão José Vanildo
Cerqueira havia se prontificado a regularizar sua situação militar por meio de
Inquérito Policial Militar, IPM, reunindo provas e documentos. Mas, em questão
de um mês, o oficial foi transferido do batalhão e faleceu durante exercício na
Amazônia. Fotos e documentos desapareceram, e várias versões foram dadas para a
morte do capitão. Seu substituto foi Reginaldo Vieira de Abreu, que seria indiciado
na trama golpista de 8 de janeiro de 2023.
Um dos oficiais que havia articulado sua
reincorporação, o general Osvaldo Pereira Gomes, propôs a ele que passasse para
a reserva como sargento, contanto que esquecesse o IPM e não comentasse mais o
caso. “Os irmãos Ochsendorf já estavam como capitães a essa altura. Como não
acreditava em mais nada do que falavam e insistia em uma investigação, não
concordei. Fui licenciado sem mais nem menos”, diz.
TESTEMUNHOS SOBRE CRIMES E GOLPES
Nos anos 2000, o ex-agente começou a tornar
públicas suas histórias. Em 2001, Valdemar ajudou o repórter Caco Barcellos a
trazer à tona a verdadeira história por trás das mortes de João Antônio e
Catarina Helena Abi-Eçab, provando que o acidente fora forjado por militares.
Conforme sua descrição, os peritos constataram que Catarina fora executada com
um tiro no crânio. “Havia vestígios de chumbo em sua nuca, no local onde eu
havia indicado”, revela.
O irmão de Catarina, Lula Ferreira,
ex-técnico da seleção brasileira de basquete, consentiu que fosse feita a
necropsia nos restos mortais. Ele considera que o ex-militar também foi uma
vítima da ditadura civil-militar. “Assim como Catarina e João, ele era muito
jovem na época”, disse Ferreira.
Enquanto Valdemar fornecia declarações à TV
Globo, no Rio de Janeiro, sua família recebeu a visita de Paim Sampaio, seu
antigo chefe no CIE, no interior de São Paulo. Seu filho, então com 12 anos,
foi intimidado pelo militar. “Por telefone, Paim me disse para tomar cuidado
com o que eu falava”, revela. Ele denunciaria Freddie Perdigão como o autor do
homicídio do casal somente na Comissão Nacional da Verdade.
Entre 2013 e 2014, Valdemar prestou
depoimentos à comissão sobre o assassinato dos Abi-Eçab e sobre o atentado à
OAB/RJ em 1980, ao fazer reconhecimento do fabricante de bombas Hilário
Corrales e do sargento Magno Cantarino Mota – este, presente também no
Riocentro, em 1981. Ele acredita que seu ex-colega, o sargento Guilherme do
Rosário, que carregava uma das bombas que explodiu no atentado ao Riocentro,
teve sua morte planejada. Freddie Perdigão, então um tenente-coronel, comandou
as duas operações.
Um inesperado reencontro com o passado
ocorreu numa sessão da comissão, quando se deparou com o ex-comandante Paulo
Malhães. “Ele me disse ‘aprenda como se faz’, após mentir nos depoimentos para
proteger seus amigos”, afirma Valdemar. Semanas depois, Malhães foi encontrado
morto, com sinais de asfixia, em seu sítio. “Ele morreu ‘no saco’, como se diz
na gíria militar, com um saco plástico envolto na cabeça.”
TENTATIVAS DE REPARAÇÃO
Apesar de ter sido falsamente taxado de
desertor durante a ditadura militar, o que lhe acarretou problemas constantes,
Valdemar continuou a realizar trabalhos para o Exército e foi mantido contra
sua vontade no posto de soldado até os 49 anos – mesmo com curso de cabo –,
ultrapassando a idade limite para a função.
Agora, aos 73 anos, ele ainda não conseguiu
passar para a reserva. “Se eu fosse mesmo um desertor, seria excluído do
serviço ativo. O Supremo Tribunal Militar reconheceu que não houve deserção de
praça, pois em 1998 não encontrou a Instrução Provisória de Deserção, o IPD”,
argumenta.
No entanto, seus pedidos de anulação do ato
de deserção, anistia política, reintegração à reserva do Exército Brasileiro e reparação
econômica não foram acolhidos pela Justiça Militar. “Meus processos sempre
caíam na mão de Edmundo Franca Oliveira, o juiz do caso do Riocentro”, conta.
Nem mesmo a Comissão de Anistia os acolheu – em 2021, ele obteve um parecer
favorável e outro divergente pela comissão.
Os seus ex-colegas de regimento, Antônio
“Camarão” Waneir e Jacy Ochsendorf, chegaram aos postos de, respectivamente,
sargento e major. Eles, ao lado do general reformado José Antônio Belham,
ex-comandante do DOI-Codi/RJ, seguem livres e recebendo salários.
Valdemar tem esperança de que seu depoimento
seja considerado e, com isso, mudar o curso de sua história na segunda quinzena
de março, quando será realizada uma oitiva, com presença de procuradores e da
Polícia Federal, na Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos –
um marco importante no reconhecimento de violações cometidas durante a
ditadura, restabelecido no ano passado após sua extinção por Jair Bolsonaro, um
ex-paraquedista.
Link da Matéria: https://www.intercept.com.br/2025/03/02/militar-revela-detalhes-de-como-o-exercito-deu-fim-ao-corpo-de-rubens-paiva-e-outros-crimes-secretos-da-ditadura/
Nenhum comentário:
Postar um comentário