ZELO RELIGIOSO E FUNDAMENTALISMO
O fundamentalismo se caracteriza por tremendo zelo
religioso. "O impulso da maioria dos movimentos fundamentalistas, sejam
católicos, mórmons, cristãos evangélicos, muçulmanos ou judaicos, é um forte
desejo de regressar à ordem mística e à perfeição original", escreveu Jon
Krakauer em seu brilhante livro Pela Bandeira do Paraíso: uma História de Fé e
Violência. Os fundamentalistas seguem, portanto, sua doutrina a partir de uma
interpretação rigorosamente literal dos textos mais antigos e sagrados da sua
igreja. A autoridade desses escritos divinamente inspirados é absoluta e
imutável. E o dever dos homens e mulheres virtuosos, acreditam os
fundamentalistas, é levar suas vidas segundo uma leitura rigidamente literal
dessa literatura.
Há, porém, uma implicação que deriva diretamente dessa
postura. De acordo com o que Vincent Crapanzano coloca seu livro Serving the
World - Literalism in America from the Pulpit to the Bench, o literalismo dos
fundamentalistas "estimula uma visão fechada do mundo, em geral (embora
não necessariamente) conservadora em termos políticos, na qual a história fica
parada no tempo e as pessoas são vistas por um prisma 'nós e eles', em que
"nós" possuímos a verdade, a virtude e a bondade, e "eles",
a falsidade, a depravação e o mal". O fundamentalismo exclui, dessa forma,
a percepção preconizada no cristianismo de que a humanidade é uma fraternidade
e que se deve "amar ao próximo com a si mesmo". Por dividir as
comunidades naquelas imbuídas de bem ou de mal, essa atitude solapa com a busca
budista pela compaixão. O fundamentalismo sufoca, assim, a religiosidade em
detrimento de uma religião irada.
Livro: As religiões do mundo
Nenhum comentário:
Postar um comentário