sexta-feira, 31 de maio de 2024

ZELO RELIGIOSO E FUNDAMENTALISMO

ZELO RELIGIOSO E FUNDAMENTALISMO
O fundamentalismo se caracteriza por tremendo zelo religioso. "O impulso da maioria dos movimentos fundamentalistas, sejam católicos, mórmons, cristãos evangélicos, muçulmanos ou judaicos, é um forte desejo de regressar à ordem mística e à perfeição original", escreveu Jon Krakauer em seu brilhante livro Pela Bandeira do Paraíso: uma História de Fé e Violência. Os fundamentalistas seguem, portanto, sua doutrina a partir de uma interpretação rigorosamente literal dos textos mais antigos e sagrados da sua igreja. A autoridade desses escritos divinamente inspirados é absoluta e imutável. E o dever dos homens e mulheres virtuosos, acreditam os fundamentalistas, é levar suas vidas segundo uma leitura rigidamente literal dessa literatura.

Há, porém, uma implicação que deriva diretamente dessa postura. De acordo com o que Vincent Crapanzano coloca seu livro Serving the World - Literalism in America from the Pulpit to the Bench, o literalismo dos fundamentalistas "estimula uma visão fechada do mundo, em geral (embora não necessariamente) conservadora em termos políticos, na qual a história fica parada no tempo e as pessoas são vistas por um prisma 'nós e eles', em que "nós" possuímos a verdade, a virtude e a bondade, e "eles", a falsidade, a depravação e o mal". O fundamentalismo exclui, dessa forma, a percepção preconizada no cristianismo de que a humanidade é uma fraternidade e que se deve "amar ao próximo com a si mesmo". Por dividir as comunidades naquelas imbuídas de bem ou de mal, essa atitude solapa com a busca budista pela compaixão. O fundamentalismo sufoca, assim, a religiosidade em detrimento de uma religião irada.

(BLANC, 2021, pp.24,25)
Livro: As religiões do mundo

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