Procuradores do município de SP podem pedir R$ 22 mil
para gastar com eletrônicos; especialistas contestam regalia
Categoria é a mais bem remunerada do funcionalismo
público em São Paulo, com rendimentos médios de R$ 46 mil mensais. Benefício é
renovado a cada 3 anos e pode gerar custo superior a R$ 8 milhões aos cofres
públicos.
Por Letícia Correia*, TV Globo e g1 SP — São Paulo
15/05/2025 15h41
Atualizado há uma semana
A Procuradoria-Geral do Município de São Paulo
implementou um benefício que permite que procuradores recebam até R$ 22 mil
para adquirir computadores, celulares e outros itens eletrônicos.
O benefício tem valor reembolsado mediante apresentação
de nota fiscal, e o auxílio pode ser renovado a cada três anos. Os bens
comprados pelos servidores, no entanto, não são incorporados ao patrimônio
público. O auxílio foi revelado pelo UOL.
Entre os itens mais solicitados pelos procuradores estão
smartphones que ultrapassam R$ 10 mil e notebooks que chegam a custar até R$ 16
mil. Para ter direito ao benefício, basta estar no cargo por pelo menos dois
anos.
Nesta quinta-feira (15), a deputada federal Tabata Amaral
(PSB) entrou com um pedido no Ministério Público para revogar o auxílio.
Especialistas em administração pública contestam as regalias recebidas pelos
servidores (leia abaixo).
A capital paulista conta atualmente com 397 procuradores.
Caso todos os servidores elegíveis utilizem o benefício, o custo potencial pode
ultrapassar os R$ 8 milhões. Dividindo o valor do reembolso pelo período de
três anos — tempo necessário para solicitar um novo auxílio — cada procurador
pode gastar, em média, cerca de R$ 611 por mês.
A TV Globo teve acesso a um pedido do auxílio e às notas
fiscais que indicam que o município comprou para um servidor: um Apple 2024
MacBook Air (de 15 polegadas, Processador M3 da Apple com CPU 8 core e GPU 10
core, 16GB Memoria unificada, 2) por R$ 15.999,00 e um Apple iPhone 15 (256 GB)
– Preto (Categoria 5), de R$ 5.665,56.
PROCURADORES TÊM RENDIMENTO MÉDIO DE R$ 46 MIL
Os procuradores municipais formam a categoria mais bem
remunerada do funcionalismo público em São Paulo, com rendimentos médios de R$
46 mil mensais — valor superior ao salário do prefeito da cidade.
De acordo com a Procuradoria-Geral do Município, o
auxílio é financiado com recursos provenientes de um fundo administrado pela
própria instituição, composto pelos honorários recebidos em ações judiciais.
Em 2020, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que
benefícios concedidos aos procuradores não poderiam ultrapassar o teto do
funcionalismo público, que é de R$ 44 mil. No entanto, o auxílio
disponibilizado pela PGM é pago separadamente, fora desse limite.
ESPECIALISTAS CONTESTAM
A professora de administração pública Cibele Franzese, da
Fundação Getúlio Vargas, aponta que os servidores não podem receber o salário e
o equipamento. "Você tem que estar submetido ao teto, essa é a primeira
coisa. E a segunda coisa é que, se isso é salário, você vai pagar imposto de
renda sobre isso”.
“Nesse caso, esse benefício pode ser de uso próprio, pode
ser dado a um filho, um amigo, pode ser revendido, porque, de acordo com a
Procuradoria, não é necessário justificar qual que é o uso”, destaca Juliana
Sakai, diretora-executiva do Transparência Brasil.
O QUE DIZ A PROCURADORIA
Em nota, a Procuradoria-Geral do Município confirmou que
o valor máximo de reembolso é de R$ 22 mil, renovável a cada três anos e
condicionado à permanência mínima de dois anos no cargo. A instituição afirmou
ainda que o pedido de reembolso para aquisição de equipamentos tecnológicos
está fundamentado em lei municipal e não representa ônus ao orçamento público.
Nenhum comentário:
Postar um comentário