Comissão aprova anistia para ex-presidente Dilma Rousseff
e indenização de R$ 100 mil
Dilma buscava reparação em razão das torturas que sofreu
durante a ditadura militar. O pedido havia sido negado em 2022, no governo
Bolsonaro.
Por Kellen Barreto, TV Globo — Brasília
22/05/2025 09h38
Atualizado há 16 horas
A Comissão de Anistia do Ministério dos Direitos Humanos
e da Cidadania aprovou por unanimidade, nesta quinta-feira (22), o pedido da
ex-presidente Dilma Rousseff para ser reconhecida como anistiada política, em
razão das violações de direitos humanos que sofreu durante a ditadura militar.
Ela também receberá uma indenização, em parcela única, de R$ 100 mil — o teto
(leia mais abaixo)
A presidente da Comissão, Ana Maria Lima, também pediu
perdão em nome do Estado brasileiro pela tortura e perseguição sofrida durante
o regime ditatorial. O pedido de perdão é um rito da comissão para todos os
anistiados (entenda a seguir).
Dilma foi presa em 1970, aos 22 anos, por atuar em uma
organização de resistência ao regime militar. Durante o período em que esteve
detida, foi submetida a sessões de tortura.
Segundo sua defesa, além da tortura a qual foi submetida
,ela foi impedida de retomar os estudos na Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG) e forçada a deixar um cargo público no Rio Grande do Sul.
O pedido de anistia foi protocolado originalmente em
2002. A tramitação ficou suspensa durante o período em que ela ocupou cargos
públicos e foi retomada em 2016. Em 2022, durante o governo do ex-presidente
Jair Bolsonaro, o requerimento havia sido negado.
O relator do caso na comissão, Rodrigo Lentz, narrou as
sessões de tortura a que Dilma foi submetida.
"Foi condenada à prisão e teve direitos políticos
cassados. Foi libertada depois de 3 anos. Teve que prestar novo vestibular e
sendo obrigada a cursar novamente todas as disciplinas. Atrasou sua formação
como economista", mencionou Lentz
"Já no trabalho, era perseguida pelo passado de
prisão e posição política. O exército divulgou uma lista de comunistas
infiltrados, ela estava na lista e foi demitida do instituto de estatística",
prosseguiu.
- Segundo a coordenação da comissão, a ex-presidente já recebeu indenização por anistia do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, estados em que foi torturada. A soma foi de R$ 72 mil.
- No entanto, ainda segundo a coordenação, ela abriu mão do valor e fez doação a instituições sociais.
- O caso da ex-presidente era um dos mais antigos ainda pendentes de julgamento pela Comissão.
- As deputadas federais Maria do Rosário (PT-RS) e Jandira Feghali (PCdoB) acompanharam a sessão.
RECONHECIMENTO JÁ FOI CONCEDIDO PELA JUSTIÇA
Em fevereiro de 2023, a Justiça Federal reconheceu Dilma
como anistiada política e determinou o pagamento de indenização de R$ 400 mil
por danos morais, mas negou o pagamento mensal.
A Comissão, no entanto, é o órgão oficial do Estado
brasileiro responsável pela política pública de reparação.
A atual presidente da Comissão de Anistia, Ana Maria
Oliveira, afirmou que o caso de Dilma “é simbólico” e que a decisão terá
impacto no debate sobre memória, verdade e justiça.
Segundo ela, o colegiado trabalhava com um teto de R$ 100
mil em parcela única ou até R$ 2 mil mensais, conforme regras aprovadas em
2023.
QUEM DEVE PAGAR A INDENIZAÇÃO?
Após a decisão da Comissão de Anistia, cabe ao Ministério
da Gestão e Inovação em Serviços Públicos (MGI) o pagamento da indenização.
O pagamento ocorre após a publicação da decisão no Diário
Oficial da União (DOU). A expectativa é que a portaria seja publicada em seis
dias.
É uma indenização é classificada como especial, de
prejuízos profissionais, pessoais, provocados pela perseguição.
O QUE É COMISSÃO DE ANISTIA?
A Comissão de Anistia é uma Comissão de Estado
responsável por promover a política pública de reparação política, tanto em
dimensão individual quanto coletiva.
A comissão também aprecia atos de exceção por motivações
exclusivamente políticas, ou seja, quando o governo age fora da lei ou distorce
a lei para punir alguém apenas por suas ideias, filiação política ou
militância, e não por um crime comum. Esses atos geralmente ocorrem em regimes
autoritários.
Cabe à comissão reconhecer a condição de anistiado
político e pedir desculpas em nome do Estado Democrático, verificando eventual
necessidade de instituir os demais direitos — o que ocorreu no caso de Dilma.
O QUE SIGNIFICA ANISTIA
A anistia é um benefício concedido pelo governo a quem
cometeu crimes. A medida, que funciona como uma espécie de "perdão",
impede que elas sejam punidas.
A Comissão de Anistia do Ministério dos Direitos Humanos
— que julgou o caso de Dilma nesta quinta — é responsável por investigar
perseguições durante a ditatura militar no Brasil.
A ditadura militar no Brasil aconteceu entre 1964 e 1985.
Durante o regime, não houve eleição direta para presidente, o Congresso
Nacional chegou a ser fechado, mandatos foram cassados, houve censura à
imprensa e centenas de pessoas foram torturadas, mortas, ou desapareceram.
A anistia concedida durante a ditadura é uma das mais
conhecidas no país. Se trata da Lei da Anistia de 28 de agosto de 1979 –
promulgada antes do fim do regime, graças a pressão popular.
A norma, assinada pelo presidente João Baptista
Figueiredo e aprovada pelo congresso, concedeu perdão para:
- perseguidos políticos;
- pessoas que se opuseram ao regime;
- exilados e banidos;
- réus que tinham processos nos tribunais militares;
"Ela nasce de uma demanda da sociedade civil, das
vítimas e de seus familiares, que procuravam obter o cancelamento das punições
aplicadas pelo regime militar a todos os que resistiram à ditadura",
aponta o professor da Faculdade de Direito da Universidade de Brasília (UnB),
Cristiano Paixão.
A lei também gerou
controvérsias por perdoar crimes graves cometidos pelos próprios militares, uma
espécie de "autoanistia".
O professor Cristiano Paixão, explica que o
desvirtuamento da lei aconteceu com o dispositivo que permitia que fossem
anistiados crimes "conexos" aos crimes políticos.
Setores do governo e do judiciário interpretaram que
todos os atos praticados pelos agentes do regime estavam protegidos pela
anistia.
Link da Matéria: https://g1.globo.com/politica/noticia/2025/05/22/comissao-de-anistia-comeca-a-julgar-pedido-da-ex-presidente-dilma-rousseff.ghtml
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