Senado
Flávio
Bolsonaro e o PT têm uma pauta em comum: enterrar a CPI da Lava Toga
Por
Olavo Soares
Brasília
12/09/2019
às 22:15
Com
o aval de Elmano Ferrer (Podemos-PI), o pedido de abertura da "CPI da Lava
Toga", que planeja apurar irregularidades no Judiciário, chegou novamente
a 27 assinaturas, o número mínimo para instalação do colegiado no Senado. A
expectativa do senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), idealizador da
Comissão Parlamentar de Inquérito, é protocolar o pedido na próxima terça-feira
(17).
A
concretização da CPI, entretanto, é uma incógnita: em outras duas ocasiões, os
apoiadores da ideia disseram ter alcançado o número de assinaturas necessárias,
mas a instalação foi rejeitada pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre
(DEM-AP).
O
que mais chama atenção desta vez é a aliança improvável entre o senador Flávio
Bolsonaro (PSL-RJ), filho do presidente da República, e a bancada do PT para
impedir a instalação da CPI. Situação que causa ainda um princípio de racha no
PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro, e no próprio bolsonarismo.
Essa
CPI não tem compromisso com o futuro do Brasil, diz Flávio Bolsonaro
“Tenho
a clara percepção que uma CPI com essa pauta – além de ser uma coisa
questionável entrar no mérito das decisões de cada ministro –, não tenho a
menor dúvida, toca fogo no país”, disse Flávio Bolsonaro, em entrevista ao site
Terça Livre. O senador não apenas reforçou que não assinaria o pedido de
criação da comissão, como também defendeu que a CPI seria um fator de
instabilidade para o governo.
“A
quem interessa uma instabilidade política nesse momento? Não é possível que as
pessoas não enxerguem. A gente tem que ter equilíbrio. Agora seria muito ruim
uma CPI como essa”, disse.
O
senador Flávio Bolsonaro também negou, na conversa, que estaria pressionando
membros do seu partido a retirar apoio à comissão. A possível ação de Flávio
neste sentido foi divulgada pela imprensa nos últimos dias e chegou a motivar
uma nota do presidente do PSL, deputado Luciano Bivar (PE), que puxou para si a
mobilização, tentando isentar o filho do presidente de responsabilidade sobre o
caso.
Apesar
da pressão de Bivar – ou de Flávio –, o filho do presidente foi o único membro
do PSL no Senado que não assinou o pedido de instalação da comissão. Soraya
Thronicke (MS) foi apoiadora da criação. Já Major Olímpio (SP) e Selma Arruda
(MT) não apenas assinaram a requisição como também têm se empenhado na
mobilização para a formalização do colegiado.
Nesta
quinta-feira (12), Olímpio divulgou um vídeo reiterando apoio à comissão e
dizendo que a “Lava Toga” pode criar no Judiciário um ambiente de investigações
similar ao que a Lava Jato criou para os poderes Executivo e Legislativo. Já
Selma expôs sua insatisfação com as pressões do PSL e, desde então, avalia a
possibilidade de deixar o partido.
Insatisfação
do bolsonarismo
A
oposição de Flávio Bolsonaro à CPI – e o alinhamento a uma causa petista –
gerou insatisfação em grupos de redes sociais que ajudaram na vitória de
Bolsonaro no ano passado e dão apoio ao governo. O chat e o campo de
comentários da entrevista do senador ao Terça Livre – página de orientação
bolsonarista – reúnem desde a publicação do vídeo até um número expressivo de
mensagens críticas ao senador.
Internautas
chamaram o senador de “traidor” e disseram que, mesmo apoiando o governo
Bolsonaro, condenam a diretriz adotada por Flávio no Parlamento. Na entrevista,
o filho do presidente disse que os defensores do governo não deveriam “morder a
isca deixada pela oposição”.
A
CPI também não conta com o apoio do PT. O líder do partido no Senado, Humberto
Costa (PE), declarou que vê na “Lava Toga” uma tentativa de intimidar o
Judiciário e de se atender a demandas do procurador Deltan Dallagnol, criticado
pelos petistas por sua atuação na Lava Jato. O pedido da instalação da comissão
também não tem assinaturas de integrantes do DEM, legenda do presidente do
Senado, e do MDB, partido que detém a maior bancada.
Nesta
quinta-feira, em uma reação ao número de assinaturas obtido pelos defensores da
CPI da Lava Toga no Senado, a oposição na Câmara dos Deputados protocolou outro
pedido de CPI, mas para investigar a chamada "Vaza Jato". Deputados
do PT, PDT, PSB, PCdoB e PSOL querem investigar supostas irregularidades
cometidas pela força-tarefa da Operação Lava Jato em Curitiba e que foram
divulgadas pelo site The Intercept Brasil e outros veículos de comunicação,
como Veja, Folha de São Paulo, UOL e El País.
“Muda
Senado” põe a cara para fora
Se
for mesmo instalada, a CPI da Lava Toga concretizará a força de um grupo de
senadores que tem se mobilizado desde o início da legislatura para a consolidar
um bloco de parlamentares que, ainda que de modo informal, se une por
contrariar decisões do governo Bolsonaro e também rejeitar aproximação com o
PT, a principal força da oposição.
O
grupo recentemente passou a se intitular “Muda Senado” e está convocando uma
manifestação em defesa da CPI para o dia 25, em Brasília. Será em uma
quarta-feira, dia em que habitualmente a maior parte dos parlamentares está na
capital federal. Embora o grupo busque manter uma linha independente do
governo, a convocação para a manifestação contou com a presença de Major
Olímpio e Selma Arruda.
A
ideia dos senadores é utilizar as redes sociais como foco de pressão para
garantir a adesão de novos parlamentares, evitar que os atuais apoiadores
retirem as assinaturas e também pressionar o presidente Davi Alcolumbre a
formalizar a constituição da CPI.
Flávio
Bolsonaro e o PT têm uma pauta em comum: enterrar a CPI da Lava Toga
Flávio
Bolsonaro atuou para enterrar CPI da Lava Toga
Bolsonaro
cobra impeachment de ministros do STF, mas atuou contra a CPI da Lava Toga
Acusado
de ser “traidor da Lava Jato”, Flávio irrita até bolsonaristas fiéis
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