Quem
eram os antipapas? A história por trás daqueles que desafiavam os Papas eleitos
Durante
séculos, personagens que discordavam dos escolhidos pelos bispos da época
competiram pelo posto de líder da Igreja Católica – muitas vezes com o apoio de
poderosos governantes.
Por
Redação National Geographic Brasil
Publicado
8 de mai. de 2025, 06:08 BRT
O Cardeal Robert Prevost lidera uma oração do rosário para o falecido Papa Francisco no Vaticano em março de 2025. Prevost compartilhou pontos de vista semelhantes aos do falecido Papa, mas muitos especulam sobre o grau de mudança que se pode esperar.
Foto de Evandro Inetti, ZUMA Press Wire, Alamy
Durante
muitos séculos, alguns dos Papas eleitos nos conclaves católicos precisaram
enfrentar um oponente. Tratava-se de um outro bispo ou religioso que desafiava
o nome alçado ao poder, apesar de sua vitória legitimamente. Estes homens eram
os antipapas, líderes que se auto-proclamavam como sendo o “Bispo de Roma” e o
sumo-pontífice da Igreja Católica
Romana.
O
nome antipapa tem origem no latim e designa o posto ocupado por um Papa quando
já existia outro. Sua ocorrência se deu entre os séculos 3 e meados do século
15, como conta a Encyclopedia Britannica (plataforma de conhecimentos gerais do
Reino Unido).
Pode-se
dizer que os antipapas eram os representantes das facções distintas de dentro
da Igreja Católica, as quais sempre existiram e lutavam pelo poder de uma das
instituições mais influentes do mundo.
A
figura dos antipapas foi comum no que se chama de “Igreja Católica primitiva” e
terminou ainda no período medieval. Atualmente não existem mais antipapas
disputando o poder da Santa Sé, e o papa eleito em conclave, a portas fechadas,
é o escolhido para liderar a Igreja Católica Apostólica Romana. Este foi o caso
de João Paulo 2º, na foto, em benção aos fiéis na Praça de São Pedro, no
Vaticano.
Foto
de JAMES L. STANFIELD
COMO SURGIA UM ANTIPAPA
Desde
o aparecimento do cristianismo, mais de 260 Papas foram escolhidos como líderes
do que foi se consolidando como a igreja que se conhece hoje. “De fato, a
tradição católica romana afirma que o cargo foi ocupado pela primeira vez por
São Pedro Apóstolo, um dos primeiros discípulos de Jesus”. Desde então, esses
nomes eram escolhidos por aclamação.
Mas
na Igreja Católica “primitiva” havia “rivais que ocasionalmente reivindicavam o
trono papal”, como conta a Britannica. E não foram poucos. “Eles eram nomeados
ou eleitos em oposição ao Papa legitimamente escolhido. Existiram cerca de 40
antipapas ao longo da história da Igreja Católica Romana”, detalha a fonte.
Já
o artigo “O heroísmo ao avesso: os ‘antipapas’ e a memória historiográfica da
política papal (1040-1130)”, de Leandro Duarte Rust, doutor em História Social
da Universidade Federal Fluminense (UFF) e professor de história da
Universidade Federal de Mato Grosso (UFMG), explica que o conceito de antipapa
é “um velho conhecido dos estudiosos do papado medieval”.
O
antipapa era “eleito de forma irregular após a morte ou a deposição ilegítima
de um Papa”, continua o artigo. Quando isso acontecia se dava, então, um cisma:
“o antipapa era designado por uma facção para desafiar o Papa legítimo; seus
promotores eram geralmente a nobreza romana, o imperador ou parte dos
cardeais", completa o documento, usando informações da Encyclopedia of
Middle Ages (Enciclopédia da Idade Média), uma plataforma da Universidade de
Oxford.
Esses
líderes religiosos também receberam o nome de “pseudopontífices” ou
"falsos pontífices", reforça o artigo de Duarte Rust dedicado ao
tema.
Um
retrato do Papa Leão 9º, considerado um atipapa que comandou a Igreja entre
1049 e 1054, quando morreu.
Foto
de Biblioteca do Congresso em Washington
QUEM FOI O ÚLTIMO ANTIPAPA?
Há
alguns séculos já não existem mais antipapas competindo pelo poder na Igreja Católica.
Segundo a Britannica, o último antipapa teria sido Félix 5º, que governou entre
1439-1449.
Félix,
cujo nome anterior era Amedeo 8º, “foi eleito antipapa quando o Concílio de
Basileia (iniciado em dezembro de 1431 e terminado a 16 de maio de 1443)
decidiu depor o papa Eugénio 4º”, informa a Britannica. Seu papado durou dez
anos: “Amadeus-Félix renunciou sob pressão dos reis da França, da Inglaterra e
da Sicília, e foi cardeal em seus últimos dois anos de vida. Ele foi o último
dos antipapas”, conclui a plataforma.
Outro
exemplo de antipapa no poder ocorreu com a ascensão de Leão 9º, que segundo o
artigo do especialista brasileiro foi “um ultraje flagrante às regras canônicas
da época".
“Promovido
ao papado por decisão pessoal do imperador Henrique 3º, ele também desrespeitou
as tradições canônicas eletivas”, continua a fonte. Seu papado durou de 21 de
junho de 1002 a 19 de abril de 1054, data de sua morte.
Vale
ressaltar ainda que o surgimento dos antipapas está ligado à chamada Cisma do
Ocidente, um período que ocorreu entre 1378 a 1417 no qual o poder papal estava
em disputa e a sede da Igreja saiu de Roma para Avignon, no sul da França.
Durante
a cisma, “havia dois, e mais tarde três Papas rivais, cada um com seus próprios
seguidores, seu próprio Sacro Colégio de Cardeais e seus próprios escritórios
administrativos”, completa a fonte britânica.