Ontem, o filme ‘Ainda Estou Aqui’ ganhou o Oscar de
melhor filme internacional, o primeiro prêmio que o Brasil leva na história. Em
tese, eu poderia achar bacana e comemorar — a história é realmente triste e remonta
um momento difícil no Brasil em que muitas pessoas, infelizmente, acabaram
torturadas e mortas.
O problema não é o filme em si, que eu ainda não assisti,
mas ouvi falar que foi realmente bem feito. É a hipocrisia daqueles que
produziram e atuaram num filme que critica a ditadura, mas apoiam — com orgulho
— a tirania atual. E pior, ainda dizem que é para defender a democracia.
Os mesmos que comemoraram tão veementemente a vitória
ontem bradam a frase “sem anistia”, referindo-se aos presos do 08/01 que foram
condenados por “tentativa de golpe de Estado” e “tentativa de abolição violenta
do Estado democrático de direito”, mesmo que nada disso tenha sido remotamente
o caso. Foram presos sem denúncia, não tiveram acesso completo aos autos, não
tiveram direito à ampla defesa e foram condenados a penas desproporcionais ao
que realmente fizeram (vandalismo e depredação de patrimônio público).
Durante a ditadura militar, a esquerda foi responsável
por diversos atos de violência incluindo sequestros, assaltos e assassinatos.
Muitas das figuras da política brasileira atual se envolveram nisso e Eduardo
Jorge já falou, com todas as letras, que o objetivo deles nunca foi a
democracia, mas a ditadura do proletariado. Eram contra um tipo de ditadura e a
favor de outra.
Em 1979, o Presidente João Figueiredo assinou a Lei da
Anistia que pavimentou o caminho para a redemocratização do país. Essa Lei
concedeu anistia a todos que cometeram crimes políticos entre 1961 e 1979,
liberou mais de 100 presos políticos e em torno de 2 mil exilados puderam
voltar ao Brasil. Um deles foi o cantor Caetanos Veloso e, recentemente,
prestes a iniciar um show, ele ficou sabendo por sua esposa Paula Lavigne que
Alexandre de Moraes estava na plateia, a multidão gritando “sem anistia” e ele
todo sorrisos achando bonito. A hipocrisia grita.
O Brasil hoje está sob um regime de exceção, em que
juízes atuam de forma ilegal e inconstitucional. Eles atuam como juízes,
policiais, advogados, procuradores e vítimas, além de recorrentemente darem declarações
político-partidárias, subirem em palanques, darem palestras e comentarem casos
julgados ou a serem julgados. Tudo com um tom de arrogância típico de tiranos,
ao mesmo tempo que fingem normalidade institucional. É nojento.
Portanto, perdoem-me por não celebrar essa conquista para
o Brasil. Não temos absolutamente nada para comemorar, a menos que a hipocrisia
passe a dar prêmios internacionais. De resto, só consigo ver um país que
sucumbe nas mãos de bandidos e tiranos e, pior, com apoio de uma boa parte da
população.
Escrito por Renata Barreto [Twitter/X]
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