Sem internet, pai percorre 28 km de
bicicleta de um estado a outro toda semana para buscar tarefas dos filhos:
'Desistir não é opção'
O roçador Edemilson Wielgosz pedala do
sítio em Guaratuba, no litoral do Paraná, até o colégio que fica em Garuva
(SC). Com salário atrasado há mais de três meses e dependendo de doações, ele
sustenta três filhos sozinho.
Por Natalia Filippin, G1 PR — Curitiba
06/10/2020 05h00 Atualizado há uma hora
O caminho para alcançar um objetivo é
diferente de uma pessoa para outra. Em cima de uma bicicleta, o roçador
Edemilson Wielgosz, de 47 anos, sabe que o trajeto é desgastante, mas não
impossível.
Ele garante que os três filhos
adolescentes não parem de estudar, mesmo sem computador, internet e morando
distante do colégio. A família vive em um sítio às margens da BR-376, em
Guaratuba, no litoral do Paraná.
Edemilson pedala até Garuva (SC),
município vizinho, todas as terças-feiras para buscar materiais e tarefas para
que eles estudem em casa, durante a pandemia do novo coronavírus. O trajeto de
ida e volta soma 28 km.
"Estou lutando para dar dignidade a
eles. Falta muita coisa e o que temos é simples, mas nunca faltou carinho e
empenho. Já passamos por muitas dificuldades, ainda dói, mas desistir não é uma
opção. Nunca foi", disse o pai.
O roçador estudou até a 4ª série e vê,
nos filhos, a chance de não deixar se repetir o passado que teve.
Ele conta que tem quatro filhos. A mais
velha se casou e não mora mais com o pai e os irmãos. Com ele, ficaram
Wellinton, de 16 anos, Amabili, de 14, e Nicole, de 12.
"Amabili parece que quer ser
policial, Wellinton quer ser caminhoneiro, e a Nicole quer ser professora. Dá
um orgulho ver eles sonhando e acreditando em um futuro melhor, né. Se Deus
quiser vai dar tudo certo", afirmou o pai.
'Feio é não tentar'
Morando em uma casa de madeira à beira
da estrada, a família raramente consegue sinal de telefonia. Com isso,
Edemilson aproveita para fazer ligações, quando precisa, no trabalho, e os
filhos se arriscam caminhando pela rodovia até encontrarem algum sinal para o
celular.
"Nasci e me criei aqui, mas é
ruralzão, né? É gostoso o nosso lugarzinho, sossegado, tem um rio perto, mas
tem esses problemas. Eles se arriscam pela estrada até algum restaurante ou
estabelecimento para conseguir sinal", explicou o pai.
Conforme o pai, algumas vezes, quando a
tarefa exige algum tipo de pesquisa, um dos filhos vai até a região que tem
sinal de telefonia, faz capturas de tela do celular com o conteúdo e volta para
terminar em casa.
"É arriscado, mas é o jeito. Eu mal
tenho condições de colocar um prato cheio na mesa, quem dirá um computador e
internet. É muito caro, eu não ia conseguir pagar nesse momento, então faço o
que posso sem nem reclamar. Não é feio passar aperto, feio é não tentar mudar e
fazer o melhor que pode".
Persistência
De acordo com Edemilson, há nove anos
ele enfrenta o desafio de cuidar e educar os filhos sozinho.
"A mãe deles foi embora do nada.
Faz nove anos que eu cuido deles sozinho. Quando eles eram menores, eu sempre
preparava a comida e lavava as roupas a noite, depois do trabalho. Agora com
eles mais velhos, fica um pouco mais fácil administrar serviço e casa",
contou.
O pai trabalha há 18 anos em uma pousada
mas, devido à pandemia, o local não paga o salário há mais de três meses,
segundo ele.
"Lá eu faço de tudo, roçada,
limpeza, serviço de jardinagem. Eu ganho um 'salarinho' que não dá muita coisa.
Só que agora faliu, eles não têm mais dinheiro para pagar a gente. Eu estou
aguentando até encontrar outro serviço. Está bem complicado. Me preocupo",
comentou.
A família Wielgosz sobrevive com ajuda
de cestas básicas e doações.
"Sem essas ajudas não daria certo,
não teria como viver. O sonho deles [dos filhos] é o meu também, e vejo que
eles são gratos pelo meu esforço. Vou quantas vezes precisar e até mais longe.
Meu amor por eles me move", afirmou.
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