'Povo argentino, lamento, é o que vocês
merecem', diz Bolsonaro sobre governo de país vizinho
Bolsonaro se comparou ao ex-presidente
argentino Macri, que perdeu disputa de reeleição em 2019. Depois, chamou Fernández
de 'esquerdalha' e criticou apoio à legalização do aborto.
Por Mateus Rodrigues e Roniara
Castilhos, G1 e TV Globo — Brasília
08/10/2020 20h05 Atualizado há 4 minutos
O presidente Jair Bolsonaro chamou de
"esquerdalha" nesta quinta-feira (8), durante transmissão em rede
social, o governo do presidente da Argentina, Alberto Fernández. Após criticar
a gestão do país vizinho, disse que isso é o que o povo argentino
"merece".
Bolsonaro se referiu à Argentina para
rebater críticas que vem sofrendo dos próprios apoiadores, nas redes sociais,
por decisões recentes do governo (veja abaixo). Segundo ele, o mesmo aconteceu
com o ex-presidente da Argentina Mauricio Macri, de tendência liberal, que não
se reelegeu em 2019.
"O Macri se elegeu na Argentina há
cinco anos, discurso parecido com o meu. Um dos primeiros países que
conseguiram se ver livres da turminha do Foro de São Paulo. Era a turminha da
Cristina Kirchner, da Dilma. [Macri] Não conseguiu fazer tudo que queria, tinha
problemas. Que que o pessoal fez com o Macri? Porrada nele o dia todo,
inclusive chamando de abortista", disse Bolsonaro.
"O que aconteceu? Voltou a
'esquerdalha' da Cristina Kirchner. Tome conhecimento o que está acontecendo na
Argentina. E detalhe: vi na imprensa hoje que o presidente vai legalizar o
aborto na Argentina. Tá aí, povo argentino, lamento, é o que vocês
merecem", prosseguiu.
Cristina Kirchner, citada por Bolsonaro,
foi primeira-dama da Argentina entre 2003 e 2007, presidente entre 2007 e 2015
e é atual vice-presidente do país.
Argentina e o aborto
Além de desferir ataques ao governo da
Argentina, Bolsonaro divulgou informações falsas sobre a gestão de Fernández. O
presidente não anunciou nenhuma medida ligada ao aborto nas últimas semanas.
A proposta de legalizar e regulamentar a
interrupção da gravidez, de fato, consta entre as promessas de campanha de
Fernández. Em março, o presidente da Argentina chegou a anunciar que enviaria
um projeto sobre o tema ao Congresso.
Dias depois, com o início da pandemia do
novo coronavírus, o assunto ficou paralisado. No fim de setembro, grupos de
defesa dos direitos das mulheres protestaram em Buenos Aires para cobrar o
envio do projeto de lei.
No último dia 30, segundo divulgou o
jornal "Clarín", a ministra de Mulheres, Gênero e Diversidade da
Argentina, Elizabeth Gómez Alcorta, afirmou em entrevista que "não está
descartado" o envio do projeto ainda em 2020.
O projeto de lei, segundo ela, está
pronto desde a declaração presidencial em março, e a decisão final caberá ao
parlamento argentino – que, assim como o brasileiro, teve a rotina alterada
pela Covid-19.
Em 2018, ainda no governo Macri, uma
proposta de legalização foi aprovada pela Câmara da Argentina, mas rejeitada no
Senado.
"A penalização do aborto fracassou
como política. Mulheres morrem por abortos clandestinos, e outras ficam com
graves sequelas de saúde", disse Fernández em declaração no fim de
setembro, também divulgada pelo "Clárin".
Na Argentina, cerca de 400.000 abortos
clandestinos são realizados todos os anos, de acordo com organizações de
direitos das mulheres.
Bolsonaro rebate críticas
As declarações de Bolsonaro sobre a
situação política da Argentina foram usadas por ele para rebater críticas de
apoiadores em redes sociais – por exemplo, à indicação do desembargador Kassio
Marques para uma vaga no Supremo Tribunal Federal.
"A gente tinha dez nomes, bons
nomes, mas eu tenho que compor. [...] 'Ah, o Kassio é abortista.' Baseado em
que, cara pálida? Acha que eu ia colocar um abortista lá?", questionou
Bolsonaro.
"Pessoal que me critica, vocês
estão perdendo a chance de bater em mim. Vejam os reitores, eu estou indicando
cara do PCdoB, do PSOL, tem universdade que é do PT. É só pegar o Diário
Oficial. Chega lista tríplice pra mim e os três são do PSOL. Às vezes é do PT,
PCdoB e PSOL, o menos pior é do PSOL", disse.
"Vai chegar pra mim lista tríplice
do STJ [Superior Tribunal de Justiça]. A lista vai ser feita pela OAB [Ordem
dos Advogados do Brasil]. Qualquer nome que eu escolha, vocês vão bater. Quer
dar porrada em mim, dá por motivo justo", prosseguiu Bolsonaro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário