Política
Seria a Covid-19 em Donald Trump a
facada de Bolsonaro?
Yahoo Notícias Redação Notícias,Yahoo Notícias•2 de outubro de 2020
(Foto: Getty Images)
Por Victor Del Vecchio
O dia 3 de novembro se aproxima e o
mundo inteiro volta olhares para o pleito que nele ocorrerá. Donald Trump
concorre a um segundo mandato na presidência dos EUA enfrentando o democrata
Joe Biden, naquela que é a corrida eleitoral que mais que mais impacta o mundo.
Trump, que até o início do ano era dado
como reeleito pelas pesquisas de intenção de voto, manteve uma posição
negacionista frente à gravidade da crise sanitária e necessidade de medidas de
isolamento, o que custou um preço alto: ⅔ dos americanos desaprovam sua gestão
em relação ao coronavírus. Nessa esteira, somam-se ainda os protestos contra violência
policial e pela igualdade racial - Black Lives Matter (BLM) - que incendiaram
os ânimos de sua oposição, movendo multidões pelas ruas do país.
Por ironia do destino ou por menosprezar
os protocolos de segurança epidemiológica, sobretudo em comícios lotados nas
últimas semanas, Trump foi diagnosticado nesta sexta (02) com COVID-19, o que
trouxe ainda mais calor à corrida eleitoral. O atual presidente desmarcou uma
série de compromissos e informou que iria se isolar junto à primeira-dama,
Melania Trump, que também testou positivo.
As especulações sobre um possível
agravamento de seu quadro de saúde e os impactos na campanha, agora tão
preciosa para Trump, aumentaram quando, após informar que estava apenas com
sintomas leves, o republicano foi internado em um hospital de Washington o que,
segundo comunicados oficiais da Casa Branca, se deu apenas por excesso de zelo
e precaução. Soma-se à estória o fato que o presidente americano nunca permitiu
divulgações sobre sua saúde, mesmo antes da pandemia.
Um ponto que merece atenção diante desta
situação é o resultado de uma pesquisa realizada pela rede CNN, que transmitiu
o debate presidencial na última terça-feira (29), e apurou que para 60% dos
espectadores, Biden “venceu” o debate. Ainda estão marcados dois encontros
semelhantes, mas que desta vez terão regras mais rígidas para evitar o show de
interrupções que prejudicou e até desestabilizou o candidato democrata. Com o
diagnóstico médico do republicano, a chance dos debates serem cancelados é
grande, o que pode ser visto como um ponto a seu favor na disputa.
É necessário também considerar o fato de
a campanha trumpista nas redes ser mais agressiva e até mesmo mais eficaz que a
de Biden, o que poderia somar como fator favorável nessa reta final, agora com
atividades presenciais prejudicadas e em um cenário onde o republicano luta
para reverter as pesquisas que indicam 7 pontos percentuais de desvantagem.
Ao mesmo tempo que a “ironia do destino”
pode provocar reflexões no eleitorado sobre a gravidade da pandemia, também
surge o fator do “voto de piedade”, no qual o cidadão escolhe um candidato que
segue na luta também contra a doença, um fator alheio a sua vontade, e que o
coloca em uma disputa desigual.
Traçando um paralelo com o caso
brasileiro, em que o à época candidato Jair Bolsonaro tomou uma facada que o
deixou hospitalizado e o submeteu a uma cirurgia, o fator do “voto de piedade”
foi bastante explorado. Ainda, estar fora dos debates também trouxe um impacto
positivo na campanha, o que pode se repetir no caso americano. Porém, devemos
considerar que nas eleições dos EUA de 2020, a campanha nas redes não tem o
mesmo peso que teve no pleito do Brasil de 2018.
A evolução do quadro clínico do
presidente americano e a reação do eleitorado que ainda oscila entre os dois
lados lança mais incertezas à disputa. Em uma eleição facultativa, deve-se
também considerar se as pessoas que declararam sua intenção de voto, de fato
irão ao pleito no dia 03 de novembro, o que tende a não ocorrer com parte do
eleitorado não-negacionista da pandemia, que tem maior adesão a Biden, e pode
preferir evitar as aglomerações e exposição.
Há ainda de se manter atenção ao fato de
que Trump, se em condições, pode estrategicamente modular a exposição de
eventual melhora ou piora de saúde, conforme os ventos das pesquisas de
intenção de voto soprarem, de maneira semelhante a qual Bolsonaro foi acusado
de ter feito para não comparecer aos debates.
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