Entenda o que se sabe sobre a execução do delegado Ruy
Ferraz Fontes em SP
Vítima atuou por mais de 40 anos na Polícia Civil e teve
papel central no combate ao crime organizado, sendo pioneira nas investigações
sobre o PCC.
Por g1 Santos
16/09/2025 00h03
Atualizado há 5 minutos
O assassinato a tiros de Ruy Ferraz Fontes,
ex-delegado-geral de São Paulo e secretário de Administração de Praia Grande,
no litoral de São Paulo, gerou repercussão no Brasil inteiro. O caso aconteceu
no início da noite desta segunda-feira (15).
Fontes atuou por mais de 40 anos na Polícia Civil e teve
papel central no combate ao crime organizado, sendo pioneiro nas investigações
sobre o Primeiro Comando da Capital (PCC).
Ele estava aposentado da corporação e, desde janeiro de
2023, atuava na Secretaria de Administração de Praia Grande.
1 - Como foi o atentado
O caso aconteceu na Avenida Dr. Roberto de Almeida
Vinhas, no bairro Nova Mirim, em Praia Grande (SP), por volta das 18h de
segunda-feira. A perseguição ocorreu momentos após Fontes encerrar o expediente
na Prefeitura.
Segundo imagens de câmeras de segurança, o carro de
Ferraz Fontes foi perseguido por um veículo com criminosos. Em seguida, o
automóvel da vítima bateu em um ônibus, foi atingido na lateral por outro e
capotou.
De acordo com o boletim de ocorrência, a Guarda Civil
Municipal (GCM) encontrou vestígios de disparo de arma de fogo próximo da
Secretaria de Educação (Seduc), revelando que a perseguição já vinha
acontecendo em ruas paralelas. A pasta fica entre as ruas Primeiro de Janeiro e
José Borges Neto.
Informações iniciais da PM indicaram que o secretário
perdeu o controle do veículo porque já havia sido baleado durante a
perseguição, mas isso ainda será confirmado nas diligências.
Os criminosos conseguiram frear o carro e evitar uma nova
batida contra o ônibus. Três homens desceram, enquanto um quarto envolvido, o
motorista, teria seguido no interior do veículo. Dois deles, então, andaram até
onde estava o ex-delegado e atiraram nele com fuzis. Todos voltaram ao
automóvel e fugiram do local.
Segundo o delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo,
Artur Dian, os criminosos atiraram mais de 20 vezes durante o atentado. Segundo
ele, foram encontrados carregadores de fuzil no local do crime.
O delegado acrescentou que os tiros atingiram diferentes
membros de Ruy Ferraz Fontes. "Grande parte do corpo. Braços, pernas e
abdômen. Foram diversos disparos", explicou.
Gravações feitas por testemunhas mostram o desespero de
quem passava pelo local do ataque. Uma mulher que estava na garupa de um dos veículos
chegou a se jogar no chão, enquanto outro motociclista se afastou do local.
De acordo com a PM, o Serviço de Atendimento Móvel de
Urgência (Samu) foi acionado e constatou a morte de Ferraz Fontes no local.
A Prefeitura de Praia Grande informou que um homem e uma
mulher que caminhavam pelo local também foram baleados e atendidos pelas
equipes do Samu. Eles foram encaminhados inicialmente para a Unidade de Pronto
Atendimento (UPA) Quietude.
De acordo com o município, as vítimas não correm risco de
morte e foram transferidas para o Hospital Municipal Irmã Dulce, também na
cidade.
2 - Quem era Ruy Ferraz Fontes
Ruy Ferraz Fontes tinha 64 anos e era formado em Direito
pela Faculdade de São Bernardo do Campo, com pós-graduação em Direito Civil.
Ele teve passagens por delegacias especializadas como o
Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), o Departamento
Estadual de Investigações contra Narcóticos (Denarc) e o Departamento Estadual
de Investigações Criminais (Deic).
Foi no início dos anos 2000, no comando da 5ª Delegacia
de Roubo a Bancos, que iniciou investigações contra o PCC, prendendo lideranças
e mapeando a estrutura da facção.
🚨 Ele foi uma das
autoridades mais atuantes diante da facção criminosa e de seu chefe, Marcola.
Em 2006, Ferraz Fontes e sua equipe de policiais indiciaram o líder do PCC e a
cúpula do Primeiro Comando da Capital.
Naquele ano, ordens do PCC de dentro das cadeias
determinaram uma série de ataques contra agentes de segurança pública devido à
decisão do governo paulista de transferir as lideranças da facção, incluindo
Marcola, para o presídio de segurança máxima de Presidente Venceslau, no
interior do estado. A atuação de Ferraz Fontes ganhou destaque nesse período.
Ferraz Fontes depois foi o delegado-geral da Polícia
Civil paulista entre 2019 e 2022, indicado pelo então governador João Doria, à
época no PSDB. Neste período, liderou a transferência de chefes da facção para
presídios federais, medida considerada estratégica para reduzir o poder do
grupo dentro das cadeias.
O ex-delegado também participou de cursos no Brasil, na
França e no Canadá, além de ter sido professor de Criminologia e Direito
Processual Penal.
Em entrevista a um podcast da CBN e do jornal O Globo que
ainda não foi ao ar, o ex-delegado disse que vivia sozinho em Praia Grande sem
qualquer proteção ou estrutura de segurança. A conversa aconteceu há duas
semanas.
3 - Linhas de investigação
A polícia trabalha, até o momento, com duas possíveis
motivações para o crime:
- vingança em razão da atuação histórica de Ruy Fontes contra os chefes do PCC;
- e/ou reação de criminosos contrariados pela atuação dele à frente da Secretaria de Administração da Prefeitura de Praia Grande.
O PCC tinha planos para matar Ruy Ferraz Fontes desde o
início dos anos 2000, segundo relatórios do Grupo de Atuação Especial de
Repressão ao Crime Organizado de São Paulo (Gaeco) do MP sobre a atuação do PCC
ao longo dos anos.
"[Ruy] foi uma das pessoas que prendeu o Marcola ao
longo da história do PCC, que esteve passo a passo nesse enfrentamento ao PCC.
Ser executado dessa maneira mostra, infelizmente, o poderio do crime
organizado, a falta de controle que o crime organizado tem dentro do Brasil,
dentro do estado de São Paulo. É uma ação extremamente ousada", disse
Rafael Alcadipani, professor da Faculdade Getúlio Vargas e membro do Fórum
Brasileiro de Segurança Pública.
"Estou em choque, fui o último a falar com ele [por
telefone]", disse ao g1 Marcio Christino, ex-promotor que atuou no combate
à facção e seus chefes, no início dos anos 2000, com o ex-delegado-geral.
Atualmente, Christino é procurador de Justiça.
Perguntado se Ruy falou se estava recebendo ameaças
recentemente, Christino respondeu que "não".
O ex-delegado e a esposa foram vítimas de um assalto a
mão armada em dezembro de 2023, no bairro Canto do Forte, também em Praia
Grande. Conforme apurado pelo g1 à época, o casal tinha acabado de sair de um
restaurante e estava a caminho de casa. Na ocasião, dois criminosos foram
presos.
Segundo o promotor Lincoln Gakiya, que investiga o crime
organizado, Ferraz Fontes escapou de um outro plano de assassinato em 2010. Ele
relatou o episódio em entrevista à GloboNews. Segundo o promotor, desde 2006, o
ex-delegado-geral era jurado de morte por membros da facção criminosa por ter
sido o idealizador do projeto que concentrou todas as lideranças do PCC no
presídio de segurança máxima de Presidente Venceslau.
4 - Próximos passos da investigação
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas,
determinou mobilização total da polícia, com a criação de uma força-tarefa para
identificar os assassinos.
A SSP-SP determinou uma força-tarefa integrada das
polícias Civil e Militar. Equipes do DHPP, Deic, Garra/Dope, Cercos da capital
e do Deinter 6 estão em diligências contínuas na região com apoio de batalhões
da Polícia Militar, incluindo o Batalhão de Ações Especiais de Polícia (BAEP)
de Santos e equipes da Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota).
“Estou estarrecido. É muita ousadia. Uma ação muito
planejada, por tudo que me foi relatado”, afirmou o governador.
Em entrevista em Praia Grande, Artur Dian acrescentou que
o carro suspeito de ter sido usado na execução de Fontes foi encontrado
incendiado a aproximadamente dois quilômetros do local do crime.
Segundo ele, outro automóvel também foi localizado com
carregadores de fuzil e munições. Até a última atualização desta reportagem, a
perícia estava sendo realizada neste segundo carro.
"Estamos em fase de perícia, localizamos um veículo
agora, mas nada pode ser descartado. Todas as linhas vão ser checadas",
afirmou o delegado.
Os dois carros usados pelos criminosos tinham sido
roubados na cidade de São Paulo, segundo informações do boletim de ocorrência.
Link da reportagem: https://g1.globo.com/sp/santos-regiao/noticia/2025/09/16/entenda-o-que-se-sabe-sobre-a-execucao-do-delegado-ruy-ferraz-fontes-em-sp.ghtml
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