VICTOR VIEIRA - O ESTADO DE SÃO PAULO - 06/10/2014 - SÃO PAULO, SP
Se antes o acompanhamento da vida escolar dos filhos era por boletins bimestrais e encontros com professores, hoje a vigilância é em tempo real e a distância. Pais e colégios reforçam a aposta em plataformas online, redes sociais e reuniões transmitidas ao vivo para conversar sobre os alunos.
As ferramentas também são uma saída prática para famílias participativas, apesar da rotina corrida. Para especialistas, a tecnologia ajuda, mas não deve substituir o contato presencial.
A artista plástica Adriana Bertini costuma viajar a trabalho, mas tenta não ficar longe dos filhos Lorenzo, de 4 anos, e Alice, de 3. Para saber cada passo das crianças na escola, mesmo quando está fora do País, a solução foi usar o aplicativo de mensagens WhatsApp. `No início, eu ficava superansiosa com essa distância. Agora tenho mais confiança ao receber vídeos e fotos das crianças, saber se estão comendo bem`, garante.
Adriana recebe ao menos três mensagens diárias da escola dos filhos, o Colégio Mater Dei, no Jardim Paulista, zona oeste da capital. Ela fica informada sobre as atividades em classe, além de pequenos problemas, como quedas ou enjoos. Segundo ela, às vezes é mais fácil receber notícias dos meninos pela escola do que pelo marido. `Na pressa, nem sempre ele consegue mandar vídeos e fotos das crianças`, conta. O recurso também faz o papel da agenda, para recados. `Só não podemos abusar da ferramenta para não perder essa relação.`
Lucila Cafaro, coordenadora da educação infantil do Mater Dei, afirma que a maioria dos pais usa as redes para pedir informações sobre os filhos. `Mas o contato fica centralizado em mim, para não atrapalhar o trabalho das professoras`, explica.
De acordo com ela, a maioria das demandas é relacionada à saúde e ao bem-estar dos filhos, mas a rede também serve para comunicar pequenos avanços de aprendizagem, como as primeiras palavras das crianças mais novas. `Esse atendimento individualizado é importante`, defende. Já a avaliação formal, mais completa, só é passada às famílias em reuniões com os professores.
`Acesso os relatórios escolares pela internet`
As viagens de trabalho não impediram Leonardo Romanelli de acompanhar os dois filhos no Colégio Internacional Ítalo- Brasileiro, em Moema, zona sul de São Paulo. Na escola, da mesma rede do Mater Dei, os pais podem acompanhar os encontros com professores em transmissões ao vivo. `Participo da maioria das reuniões presenciais, mas esse recurso é ótimo para uma situação adversa de quem tem a agenda problemática`, elogia o diretor de vendas, que também já marcou encontros separados com professores por videoconferência.
De acordo com ele, outra vantagem tecnológica é a chance de acompanhar o desenvolvimento de aprendizagem dos filhos, que estão na educação infantil, pela tela do computador ou do smartphone. `Agora acesso os relatórios escolares por arquivos compartilhados na internet`, diz ele, pai de Pedro, de 5 anos, e Lucas, de 3. `Isso também serve para os alunos que queiram acompanhar aulas remotamente.`
O próximo passo, sugere Romanelli, é tornar toda a agenda das crianças virtual. Por outro lado, o diretor de vendas dispensa a troca constante de mensagens com professores pelas redes sociais. `Eu não uso tanto`, afirma. `Fico preocupado em interromper o trabalho dos professores; quebrar a dinâmica`, acrescenta.
De olho. Se as crianças pequenas estão sob controle dos pais a poucos cliques, as mais velhas também não escapam da vigilância. Além da filha caçula, de 6 anos, a pedagoga Betina Gouvea aproveita o alcance virtual para acompanhar os dois filhos adolescentes no Colégio Rio Branco, em Higienópolis, zona central de São Paulo.
No monitoramento, Betina rastreia as contas do colégio nas redes sociais e a plataforma virtual do Rio Branco, que reúne registros de notas, entrega de trabalhos, faltas e atraso em classes. `Se ele vai mal na primeira prova, dá tempo de conversar para recuperar a nota`, relata ela.
Pela rede social, ela descobre até detalhes do comportamento dos meninos, antes restritos à classe. `Na internet, já descobri até fotos dos meus filhos cochilando`, conta. `Dei bronca, claro. Mas eu sei que é algo que também acontecia na minha época`, pondera.
Filho mais velho de Betina, Thiago Gouvea, de 17 anos, diz que já sofreu mais com a preocupação da mãe. `Agora vejo que ela procura mais os meus irmãos`, afirma ele, aluno do 3.º médio. Ele acredita que o acompanhamento é necessário, mas em alguns casos, como na foto da soneca em aula, incomoda. `É um pouco chato quando a brincadeira sai da esfera das pessoas envolvidas.`
Para experts, a interação é fundamental
O contato virtual aproxima as famílias da escola, mas não deve ser a única ponte. Para uma comunicação eficiente, segundo especialistas, pais, estudantes e professores precisam entender as potencialidades e os limites dos recursos tecnológicos. Apesar do interesse, ainda são poucas as escolas que têm estruturas mais amplas de interação online com os pais.
`É importante a presença física da família, em reuniões ou até festas`, defende a professora da Faculdade de Educação da USP Silvia Colello. `Assim eles podem conhecer o clima de trabalho, a relação entre as crianças e como o espaço é utilizado`, completa. Pesquisas mostram que o acompanhamento presencial melhora os resultados dos alunos. Outra necessidade, segundo a pesquisadora, é que a escola se prepare para atender a essa demanda com qualidade. `É importante que o sistema tenha interação e não seja só informativo`, diz.
A cobrança pela internet é a versão atualizada do que os pais já faziam no passado. O que muda é a intensidade elevada de contato, com maior risco de abusos. `Isso pode gerar uma sensação de perseguição`, alerta Rosa Maria Farah, coordenadora do Núcleo de Pesquisas da Psicologia em Informática da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
Limite. Para ela, é importante que pais, escolas e alunos entendam e criem limites para o contato virtual. E embora mais conectados, muitos pais ainda têm dificuldades de compreender o ciberespaço. `Boa parte tem uma visão preconceituosa e não sabe, por exemplo, como os filhos participam nas redes`, avalia Rosa Maria.
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